O município de Guarulhos, na Grande São Paulo, abriga o maior aeroporto do Brasil e possui a segunda maior arrecadação do Estado mais rico do País. Só perde para a capital. Com esses indicativos, a cidade teria todas as condições básicas para oferecer a seu 1,1 milhão de habitantes uma boa qualidade de vida. Não é isso, porém, o que acontece. Em Guarulhos, as carências sociais são enormes. Nenhuma gota do esgoto residencial é tratada. A explicação para tamanha contradição se tornou evidente na última semana. Por volta das 19 horas da terça-feira 7, promotores e policiais militares entraram na Câmara Municipal e, sob aplausos dos eleitores, arrastaram para dentro do camburão três nobres vereadores: Oswaldo Celeste (PTB) – presidente da Casa -, Waldomiro Ramos (PTB) e Fausto Martello (PPB). O objetivo era prender o também vereador Wanderley Figueiredo (PL) e os funcionários Antônio Carlos Simões, José Carlos Patrão e Luís Ponte. Como ratos acuados, os quatro desapareceram e até a noite da quinta-feira 9 não haviam sido encontrados. Todos são acu-sados de surrupiar o dinheiro público.

Segundo o Ministério Público, os vereadores costumavam cobrar propinas e favores do prefeito para aprovar projetos e também tinham o hábito de superfaturar os serviços prestados à Câmara, desde que as empresas beneficiadas repassassem a eles parte da dinheirama. “O desvio de recursos é tão grande que não há como fazer os investimentos necessários nas áreas sociais”, diz o deputado estadual Elói Pietá (PT), responsável pelo início das investigações que já levaram à cassação do prefeito Nefi Tales, acusado de enriquecimento ilícito. A prisão dos parlamentares começou a ser desenhada no final de maio, quando o Ministério Público recebeu um dossiê elaborado por Pie-tá. De acordo com o deputado, 18 dos 21 vereadores da cidade estariam envolvidos na roubalheira. Para sustentar as acusações, o deputado usou uma fita que registrou um encontro do prefeito Jovino Cândido (PV) com o empresário Luís Roberto Mesquita. Na conversa, o prefeito dizia que os vereadores esta-riam exigindo dinheiro e cargos para aprovar os projetos do Executivo. Com o avançar das investigações, foram feitas novas gravações e os promotores descobriram que os parlamentares rece-biam dinheiro de empresas que prestavam serviços à Câmara, entre elas estão a Taquigraf, Dardo, Lite e Venko.

Apesar dos aplausos da população, a forma como foram feitas as prisões desagradaram aos outros vereadores. Segundo o advogado Alberto Rolo, responsável pela defesa de Celeste, as prisões foram arbitrárias, pois as fitas que apontam a maracutaia não teriam valor legal. Filigramas jurídicas à parte, o certo é que a presença de vereadores em camburões indica que a cidade está mesmo disposta a combater a corrupção. Resta saber o que acontecerá caso se confirme o envolvimento de maioria absoluta dos vereadores com o desvio do dinheiro público.