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O promotor Rodrigo Merli e o advogado Ivon Ribeiro protagonizaram um novo bate-boca durante o depoimento do delegado Antonio de Olim, que investigou o assassinato da advogada Mércia Nakashima, morta aos 28 anos em 23 de maio de 2010. O promotor se irritou quando o defensor do policial militar reformado Mizael Bispo de Souza, réu no processo, exibia um vídeo para tentar comprovar que o vigia Evandro Bezerra Silva, acusado de ser cúmplice, se contradisse ao falar sobre o caso à Polícia Civil. O advogado tentava, com a gravação, apontar ainda um suposto erro na transcrição do depoimento anexada no processo, quando foi interrompido por Merli, que o acusou de tentar "induzir" os jurados ao erro.

"O senhor não conhece o processo e está tentando induzir todo mundo ao erro aqui. O senhor está mentindo. O senhor é um mentiroso! O diabo é o pai da mentira!", gritou o promotor. Merli argumentou que não existe erro na transcrição, conforme apontou o advogado, já que Ribeiro estaria comparando a transcrição de um depoimento com a gravação de outro, tomado em uma ocasião diferente.

O promotor afirmou que estava tentando "se controlar" e "manter a paciência" durante os questionamentos da defesa ao delegado, e chegou a dizer anteriormente que estava "irreconhecível", por ter mantido o silêncio, mas que se "cansou" da postura do advogado de Mizael. A defesa, então, reagiu à acusação, negou que tenha se equivocado e rebateu, também bastante exaltado: "mentiroso é o senhor!", gritou Ribeiro.

Para evitar novos confrontos, o juiz Leandro Bittencourt Cano, presidente do júri, determinou que a defesa direcionasse a ele as perguntas que gostaria de fazer à testemunha, para que ele, então, questionasse o delegado. O depoimento de Antonio de Olim já durava cerca de cinco horas quando o tumulto ocorreu.

Ex-namorado de Mércia, Mizael é acusado de tê-la assassinado, com a ajuda do vigilante para fugir do local do crime, em uma represa em Nazaré Paulista, no interior de São Paulo. Ele sempre negou a acusação, e a defesa sustenta que tentará comprovar até o fim do julgamento que ele não estava no local quando Mércia foi assassinada. O julgamento começou na segunda-feira, no Fórum Criminal da Barra Funda, e só deve terminar na próxima sexta-feira. Cinco mulheres e dois homens compõem o júri que irá decidir se Mizael é culpado ou inocente. Evandro será julgado separadamente, em um júri previsto para ocorrer em julho deste ano.

O caso Mércia

A advogada Mércia Nakashima, 28 anos, desapareceu no dia 23 de maio de 2010, após deixar a casa dos avós em Guarulhos (Grande São Paulo), e foi encontrada morta no dia 11 de junho, em uma represa em Nazaré Paulista, no interior de São Paulo. A perícia apontou que ela levou um tiro no rosto, um tiro no braço esquerdo e outro na mão direita,  mas morreu por afogamento quando seu carro foi empurrado para a água.

O ex-namorado de Mércia, o policial militar reformado e advogado Mizael Bispo de Souza, 43 anos, foi apontado como principal suspeito pelo crime e denunciado por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima. De acordo com a investigação, Mércia namorou durante cerca de quatro anos com Mizael, que não se conformava com o fim do relacionamento amoroso. A Promotoria também denunciou o vigia Evandro Bezerra Silva, que teria o ajudado a fugir do local, mas seu julgamento ocorrerá separadamente, em julho deste ano.

Preso em Sergipe dias depois da morte de Mércia, Evandro afirmou ter ajudado Mizael a fugir, mas alegou posteriormente que foi obrigado a confessar a participação no crime, sob tortura. Entretanto, rastreamento de chamadas telefônicas feito pela polícia com autorização da Justiça colocaram os dois na cena do crime, de acordo com as investigações. Outra prova que será usada pela promotoria é um laudo pericial de um sapato de Mizael, no qual foram encontrados vestígio de sangue, partículas ósseas, vestígios do projétil da arma de fogo e uma alga típica de áreas de represa.

Mizael teve sua prisão decretada pela Justiça em dezembro de 2010, mas se escondeu após considerar a prisão "arbitrária e injusta", ficando foragido por mais de um ano. Em fevereiro de 2012, porém, ele se entregou à Justiça de Guarulhos e, desde então, aguardava ao julgamento no Presídio Militar de Romão Gomes – enquanto o vigia permanece preso na Penitenciária de Tremembé. Mizael nega ter assassinado Mércia e disse, na ocasião, que a tratava como "uma rainha". Já o vigia afirmou, em depoimento, que não sabia das intenções do advogado e que apenas lhe deu uma carona. Se condenados, eles podem ficar presos por até 30 anos.