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O julgamento do ex-policial militar Mizael Bispo de Souza, acusado de matar a ex-namorada Mércia Nakashima em 2010, foi retomado na manhã desta terça-feira. Mais duas testemunhas devem ser ouvidas, segundo o jornal O Estado de S. Paulo: o delegado Antonio Assunção de Olim, que comandou as investigações, e o advogado Arles Gonçalves Junior, que acompanhou os depoimentos do vigia Evandro Bezerra da Silva, apontado como cúmplice, que diz ter sido torturado para confessar. O primeiro dia do julgamento, que está sendo transmitido ao vivo, foi marcado pelo depoimento do contador Márcio Nakashima, irmão de Mércia e testemunha de acusação.

Durante quatro horas, Márcio Nakashima chorou por nove vezes, como quando foi obrigado a lembrar do último dia em que viu a irmã com vida e ao descrever o perfil dela. Já a defesa buscou desestabilizá-lo emocionalmente para realçar as contradições para o júri. As demais testemunhas ouvidas foram o biólogo Carlos Eduardo de Mattos Bicudo e o engenheiro Eduardo Amato Tolezani. Bicudo apresentou indícios de que Mizael esteve na represa de Nazaré Paulista, onde o carro com o corpo de Mércia foi jogado. Já Tolezani fez uma explanação técnica sobre por onde Mizael passou com seu carro e celular no dia do crime.

Depoimento de Márcio Nakashima "virá abaixo", diz irmão de Mizael

O depoimento de Márcio Nakashima – irmão de Mércia Nakashima, assassinada em maio de 2010 – será desqualificado. A afirmação foi dada nesta terça-feira por Adão Bispo de Souza, irmão do réu Mizael Bispo de Souza, na chegada ao Fórum de Guarulhos (SP) para o segundo dia do julgamento. "O depoimento do Márcio vai vir abaixo. Todo mundo percebeu que o depoimento dele foi mentiroso e que eles vão conseguir provar”, disse Adão.

O irmão de Mizael não quis detalhar quais seriam as mentiras, mas ontem, durante o depoimento de Márcio, por diversas vezes balançou a cabeça negativamente quando o irmão de Mércia dizia que o réu era possessivo e ciumento. Adão também acredita que o primeiro dia de julgamento foi muito favorável ao seu irmão e acredita que a defesa irá conseguir provar a inocência do policial reformado. "Os depoimentos mostraram que não há provas contra Mizael", ressaltou. 

Um dos três advogados de defesa, Ivon Ribeiro, também avalia o primeiro dia de jugalmento como favorável ao seu cliente. Ele negou que tenha falado mal de Mércia, como acusado por Márcio em seu depoimento. “A Mércia foi uma pessoa que eu conheci e nunca tive o que falar sobre ela”, disse, ressaltando que respeita a dor do irmão da vítima. "Mas ele não conseguiu responder nenhuma das perguntas que eu fiz", completou. 

Segundo Ribeiro, a defesa irá explorar que o laudo que mostra que havia alga da represa no sapato de Mizael tinha falhas. Ele acha estranho, por exemplo, que o documento foi assinado 87 dias depois do crime. 

O primeiro depoimento do dia é o do delegado Antonio de Olim, que comandou as investigações a respeito do caso, arrolado pela acusação. O assistente de acusação Alexandre de Sá falou que acredita na condenação de Mizael. "As provas são muito fortes e o depoimento do delegado será fundamental porque vai poder explicar como conduziu a investigação e se defender das críticas que recebeu da defesa nos últimos três anos", explicou. 

Além de Olim, outras sete testemunhas ainda precisam depor – sendo uma de acusação, cinco de defesa e uma de juízo. Apenas após os depoimentos é que o réu será ouvido. De a acordo com o juiz Leandro Bittencourt Cano, a expectativa é que o júri acabe na sexta-feira.

A movimentação em torno do Fórum de Guarulhos é tranquila hoje, mas a rua permanece isolada e fechada para o trafego de veículos. Ontem, uma manifestação pelo fim da violência contra as mulheres atraiu a atenção de curiosos e, do outro lado, cartazes em favor de Mizael pediam justiça.

O caso

A advogada Mércia Nakashima, 28 anos, desapareceu no dia 23 de maio de 2010, após deixar a casa dos avós em Guarulhos (Grande São Paulo), e foi encontrada morta no dia 11 de junho, em uma represa em Nazaré Paulista, no interior de São Paulo. A perícia apontou que ela levou um tiro no rosto, um tiro no braço esquerdo e outro na mão direita,  mas morreu por afogamento quando seu carro foi empurrado para a água.

O ex-namorado de Mércia, o policial militar reformado e advogado Mizael Bispo de Souza, 43 anos, foi apontado como principal suspeito pelo crime e denunciado por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima. De acordo com a investigação, Mércia namorou durante cerca de quatro anos com Mizael, que não se conformava com o fim do relacionamento amoroso. A Promotoria também denunciou o vigia Evandro Bezerra Silva, que teria o ajudado a fugir do local, mas seu julgamento ocorrerá separadamente, em julho deste ano.

Preso em Sergipe dias depois da morte de Mércia, Evandro afirmou ter ajudado Mizael a fugir, mas alegou posteriormente que foi obrigado a confessar a participação no crime, sob tortura. Entretanto, rastreamento de chamadas telefônicas feito pela polícia com autorização da Justiça colocaram os dois na cena do crime, de acordo com as investigações. Outra prova que será usada pela promotoria é um laudo pericial de um sapato de Mizael, no qual foram encontrados vestígio de sangue, partículas ósseas, vestígios do projétil da arma de fogo e uma alga típica de áreas de represa.

Mizael teve sua prisão decretada pela Justiça em dezembro de 2010, mas se escondeu após considerar a prisão "arbitrária e injusta", ficando foragido por mais de um ano. Em fevereiro de 2012, porém, ele se entregou à Justiça de Guarulhos e, desde então, aguardava ao julgamento no Presídio Militar de Romão Gomes – enquanto o vigia permanece preso na Penitenciária de Tremembé. Mizael nega ter assassinado Mércia e disse, na ocasião, que a tratava como "uma rainha". Já o vigia afirmou, em depoimento, que não sabia das intenções do advogado e que apenas lhe deu uma carona. Se condenados, eles podem ficar presos por até 30 anos.