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Começou na manhã desta segunda-feira o julgamento de Mizael Bispo de Souza, 43 anos. Como se declarou um dos advogados do caso, ele está de terno e gravata ao lado de outros defensores, e não com o uniforme de presidiário, no banco dos réus. Como seu próprio defensor, Mizael poderá intervir e fazer perguntas no decorrer do júri. Acusado de matar Mércia Nakashima em 2010, Mizael chegou por volta das 8h20 ao fórum criminal de Guarulhos (SP).

Do lado de fora do fórum, dois grupos protestavam, um contra e outro a favor de Mizael Bispo, por volta das 9h30. Cerca de 20 mulheres de da organização "Marcha Mundial das Mulheres" traziam camisetas com a mensagem: "O feminismo nunca matou ninguém, o machismo mata todo dia".

Do outro lado, a pintora automobilística Cármen Lúcia Ferreira, de 42 anos, foi ao fórum nesta manhã para prestar sua solidariedade a Mizael. "Conheço Mizael e a família dele há 18 anos. Jamais ele faria isso, porque amava a mulher", disse. Mais cedo, o advogado de Mizael Bispo, Samir Haddad Júnior, disse que seu cliente "está tranquilo e confiante".

Em causa própria

Segundo outro defensor, Ivon Ribeiro, Mizael pode atuar em causa própria, fazendo perguntas às testemunhas, mas a princípio não tem nada planejado. "Não precisamos trazer nenhum fato novo porque temos o processo com as provas técnicas que demonstram de forma cabal que Mizael não estava na cena do crime", garantiu.

O defensor falou antes do início do julgamento de hoje que o acusado de ser cúmplice no crime, Evandro Bezerra Silva, 41 anos, foi torturado pra falar e acredita também na sua inocência. "Não dá pra acreditar nele porque mudou de versão várias vezes", explicou Ribeiro. Evandro era vigilante de um posto de combustível em Guarulhos e fazia "bicos" como segurança a serviço de Mizael. Ele teria ajudado o policial militar reformado a fugir do local do crime, e foi buscá-lo na noite do assassinato em uma estrada próxima à represa onde Mércia foi morta. “A polícia de SP é a pior instituição do Estado. De uma hora pra outra querem fazer da polícia santa”, acusou Ribeiro.

O advogado também fez críticas ao Ministério Público. “Que alquimia é essa que estão fazendo para fazer do Mizael réu? Quer dizer, só tem tu, vai tu mesmo", questionou. “Esse processo foi virado de cabeça pra baixo. Não tendo mais o que falar, mudaram o horário do crime pra incriminá-lo”, completou.

O irmão de Mércia, Márcio Nakashima,chegou por volta das 9h50 ao Fórum e chorou antes do início dos trabalhos. Ele vai ser uma das testemunhas de acusação. “Estou muito nervoso, só querendo que a Justiça seja feita”, revelou. O pai, Makoto, também foi taxativo. "Quero que a Justiça seja feita, quero condenação do Mizael", pediu.

O caso Mércia

A advogada Mércia Nakashima, 28 anos, desapareceu no dia 23 de maio de 2010, após deixar a casa dos avós em Guarulhos (Grande São Paulo), e foi encontrada morta no dia 11 de junho, em uma represa em Nazaré Paulista, no interior de São Paulo. A perícia apontou que ela levou um tiro no rosto, um tiro no braço esquerdo e outro na mão direita,  mas morreu por afogamento quando seu carro foi empurrado para a água.

O ex-namorado de Mércia, o policial militar reformado e advogado Mizael Bispo de Souza, 43 anos, foi apontado como principal suspeito pelo crime e denunciado por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima. De acordo com a investigação, Mércia namorou durante cerca de quatro anos com Mizael, que não se conformava com o fim do relacionamento amoroso. A Promotoria também denunciou o vigia Evandro Bezerra Silva, que teria o ajudado a fugir do local, mas seu julgamento ocorrerá separadamente, em julho deste ano.

Preso em Sergipe dias depois da morte de Mércia, Evandro afirmou ter ajudado Mizael a fugir, mas alegou posteriormente que foi obrigado a confessar a participação no crime, sob tortura. Entretanto, rastreamento de chamadas telefônicas feito pela polícia com autorização da Justiça colocaram os dois na cena do crime, de acordo com as investigações. Outra prova que será usada pela promotoria é um laudo pericial de um sapato de Mizael, no qual foram encontrados vestígio de sangue, partículas ósseas, vestígios do projétil da arma de fogo e uma alga típica de áreas de represa.

Mizael teve sua prisão decretada pela Justiça em dezembro de 2010, mas se escondeu após considerar a prisão "arbitrária e injusta", ficando foragido por mais de um ano. Em fevereiro de 2012, porém, ele se entregou à Justiça de Guarulhos e, desde então, aguardava ao julgamento no Presídio Militar de Romão Gomes – enquanto o vigia permanece preso na Penitenciária de Tremembé. Mizael nega ter assassinado Mércia e disse, na ocasião, que a tratava como "uma rainha". Já o vigia afirmou, em depoimento, que não sabia das intenções do advogado e que apenas lhe deu uma carona. Se condenados, eles podem ficar presos por até 30 anos.