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Em 1998, durante a campanha de reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, o publicitário Nizan Guanaes costumava se comparar a um cirurgião plástico que precisaria fazer retoques no rosto de Cindy Crawford. Se tudo desse certo, poucos reconheceriam seus méritos e o sucesso seria creditado à natureza que propiciou um rosto lindo à atriz. Se desse errado, entraria para a história como vilão, responsável por macular a beleza da musa hollywoodiana. Mas hoje, com a ascensão das baixarias nas disputas eleitorais, os marque teiros estão jogando para a galera e parecem mais próximos aos técnicos de futebol do que aos grandes cirurgiões. E, como os treinadores, são os primeiros a pagar o pato quando as coisas não caminham bem. “Na próxima eleição, vou incluir um adicional de culpa”, comenta Augusto Fonseca, marqueteiro afastado da campanha da petista Maria do Rosário, na disputa pela Prefeitura de Porto Alegre. Fonseca, um dos responsáveis pela vitoriosa campanha de FHC em 1994, sofria pressões para que a campanha de Maria do Rosário fosse mais agressiva.

Em Belo Horizonte, os dois candidatos que disputaram o segundo turno trocaram de técnico no meio do jogo. O argentino Guillermo Raffo, responsável pela vitoriosa campanha do prefeito Fernando Pimentel em 2004, foi o escolhido para comandar a propaganda de Márcio Lacerda (PSB), apoiado pelo governador Aécio Neves e pelo prefeito petista. Foi trocado por Duda Mendonça tão logo se encerrou o primeiro turno. Raffo não permitiu que Lacerda participasse de debates, tanto os de tevê como os menores, em faculdades e sindicatos. Resultado: o afilhado de Aécio e de Pimentel foi obrigado a disputar o segundo turno em uma eleição em que era favorito para liquidar a disputa em 5 de outubro. Com a chegada de Duda, o candidato começou a participar de debates e os padrinhos foram postos em segundo plano. Segundo o diretor do Instituto Sensus, Américo Antunes, oito em cada dez eleitores definiram os seus votos após assistir a algum tipo de debate entre os candidatos. Pelo visto, o argentino Raffo não conhecia o estudo do Sensus.
Leonardo Quintão, o candidato do PMDB em Belo Horizonte, trocou o publicitário Cacá Souza depois de seu sexto programa de tevê. Veio para a equipe a marqueteira Silvana Machado, que colocou um banquinho e o forte sotaque mineiro do candidato no lugar dos efeitos tecnológicos. “O marketing não pode estar acima do candidato”, considera Silvana. “A tendência atual é que o marqueteiro apareça menos que o candidato”, avalia Fonseca.

i71477.jpgEm São Paulo, Geraldo Alckmin trocou Lucas Pacheco por Raul Cruz Lima, mas não adiantou. O publicitário Luiz González pouco apareceu na campanha do prefeito Gilberto Kassab (DEM). Mas não foi o que aconteceu com João Santana na equipe de Marta Suplicy. Ele não perdeu o posto, mas foi obrigado a assumir publicamente um dos maiores erros da campanha. Uma peça publicitária que questionava aspectos pessoais da vida de Kassab teve péssima repercussão e Marta foi tachada de preconceituosa. A candidata esquivou- se da responsabilidade. “A Marta não sabia. Eu tinha liberdade para tomar a decisão e não previ a reação que o comercial provocaria”, disse Santana.


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