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Em uma atitude histórica para restabelecer o diálogo com a China e seus estimados 12 milhões de católicos, o papa Bento XVI rompeu um silêncio de 50 anos. Dias atrás, escreveu uma carta aberta, de 55 páginas, aos fiéis chineses pedindo unidade – eles são divididos em dois grupos – e reivindicando o direito de exercer seu papel de autoridade máxima da Igreja, função desempenhada hoje pelo Partido Comunista.
 

 

A relação entre China e Vaticano foi interrompida em 1951, por causa de Taiwan. Considerada uma província rebelde pela China, a ilha foi reconhecida pelo Vaticano, o que irritou os comunistas. Desde então, a Igreja de Roma não é bem-vinda. Com isso, os católicos se dividiram: de um lado, os fiéis que seguem os preceitos do papa e por isso vivem na clandestinidade; de outro, os membros da Associação Patriótica dos Católicos Chineses e da Conferência dos Bispos Católicos da China. São versões chinesas do catolicismo em que bispos são nomeados pelo próprio governo.

"É mais um produto pirata deles", diz Jorge Claudio Ribeiro, professor de Teologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo.

A iniciativa irritou o governo chinês, para quem o papa não deveria usar "o nome do catolicismo para intrometer-se nos assuntos internos da China". Com 1,3 bilhão de habitantes, a religião predominante no país é o budismo, com 150 milhões de seguidores. O Vaticano explica que a carta foi uma resposta aos apelos dos católicos chineses que não sabem como agir. O padre Juarez Pedro de Castro, da Arquidiocese de São Paulo, acredita que o motivo vai além. "O papa prima muito pela unidade da Igreja, é uma característica forte dele", afirma. "Da mesma forma que João Paulo II priorizou o Leste Europeu, Bento XVI vai se empenhar em estabelecer diálogo com a China." Na sua opinião, foi o momento certo para agir. "É notório que a China está se abrindo aos poucos para o Ocidente. O papa quis aproveitar essa deixa para se fazer presente por meio da evangelização", diz Juarez.