No início de abril, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá anunciar a definição sobre qual será o caça supersônico a ser comprado pelo Brasil para substituir os velhos Mirage IIIBR, que protegem o espaço aéreo de Brasília. Fazer a escolha de um negócio de quase US$ 800 milhões não é tarefa fácil e com certeza irá contrariar interesses poderosos. A escolha é tão complexa e delicada que o projeto FX – como foi batizada a disputa – foi concebido para ser implantado no menor prazo possível, mas seu cronograma está atrasado em mais de cinco anos. Agora, não há mais como adiar. “Nossos atuais caças, com mais de 30 anos, não terão mais condições de voar a partir do final ao ano que vem”, avisa o tenente-brigadeiro-do-ar Luiz Carlos Bueno, comandante da Aeronáutica.

São cinco os concorrentes: o consórcio Embraer-Dassault, com o Mirage 2000-5Br; a Avibrás Aeroespacial, associada à russa Rosoboronexport, com o Sukkhoi Su-35; a anglo-sueca Saab/BAe, com o JAS-39 Gripen; a americana Lockheed Martin, com o F-16; e a russa RAC-MiG, com o MiG-29. No final de 2002, o então presidente Fernando Henrique Cardoso esteve bem próximo de decidir qual o avião a ser comprado. Um relatório elaborado pela Aeronáutica apontava o Gripen como o mais adequado, embora os suecos não tenham apresentado as melhores propostas de offsets (contrapartidas comerciais) nem assegurassem transferência de tecnologia à indústria nacional. Boa parte dos sistemas inteligentes do Gripen é de origem americana, e o governo dos EUA não permitem a passagem dessa tecnologia, fato que também pesa contra o F-16. Se respeitasse a opção da Força Aérea, FHC iria melindrar diversas outras áreas do governo e também o empresariado nacional. Em fim de governo e com orçamento apertado, o ex-presidente deixou a decisão para o sucessor. Agora, o abacaxi supersônico está com Lula e não há mais tempo para que o processo seja adiado.

Logo depois de assumir, Lula chegou a adiar a decisão e só retomou o projeto FX quase um ano depois. Os mesmos concorrentes apresentaram novas propostas e, no final do ano passado, a Aeronáutica finalizou um novo relatório. Os dados desse estudo comparativo permanecem sigilosos, mas nada indica que a Aeronáutica tenha mudado sua opção. O problema do presidente reside exatamente em como apresentar a uma nação castigada pela falta de recursos e pelo gigantesco desemprego uma despesa de quase US$ 800 milhões para a compra de aviões de guerra em tempos de paz. A resposta para o impasse pode ter caído no colo do presidente na quinta-feira 25. Na manhã daquele dia, Lula recebeu uma carta aberta da Frente Parlamentar em Defesa da Indústria Aeronáutica Brasileira. O documento, assinado por 150 congressistas pesos pesados, como o deputado Delfim Netto

(PP-SP) e o senador Paulo Paim (PT-MG), destaca que “a transferência de tecnologia é um fator de relevância, por isso devemos envolver empresas do Brasil diretamente no processo para a co-produção sob licença”. Em seguida, os parlamentares pedem que o presidente “opte pela compra de aviões da Avibrás Indústria Aeroespacial S.A. ou da Embraer, gerando empregos e renda para os brasileiros e contribuindo para o investimento privado em ciência e tecnologia, pilares fundamentais para a soberania do Brasil”. São argumentos fortes para justificar um gasto tão grande.