Nunca houve tanta polêmica quanto nos últimos meses sobre o uso da terapia de reposição hormonal, indicada para aliviar os sintomas do climatério (período que se inicia com a queda dos hormônios femininos estrógeno e progesterona). Estudos divulgados recentemente indicam que o tratamento pode trazer consequências como o aumento do risco de câncer de mama e de acidente vascular cerebral e ainda não protege contra doenças cardíacas, como se imaginava. A divulgação das pesquisas deixou as mulheres em alerta e dividiu a comunidade médica. Parte não sabe ao certo que atitude tomar. A outra parte questiona a consistência dos resultados dos trabalhos. Diante da confusão, a Sociedade Brasileira do Climatério decidiu que era hora de agir. Em abril, a entidade lançará um manual com orientações direcionado aos especialistas.

O guia enfatiza a necessidade de individualizar o tratamento. De acordo com os organizadores do manual, antes de qualquer passo, é fundamental analisar o caso de cada paciente com bom senso, os benefícios e as desvantagens que o método pode trazer a ela e só depois decidir se vale a pena indicá-lo. “A terapia não deve ser usada de modo aleatório e sem parcimônia”, afirma Edmund Baracat, presidente da Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia. Outra recomendação é receitar o tratamento somente quando os sintomas do climatério, como ondas de calor, depressão e baixa libido, prejudicarem a qualidade de vida da mulher. “Há casos em que ela não consegue nem sequer trabalhar”, exemplifica César Eduardo Fernandes, presidente da Sociedade Brasileira do Climatério.

O ideal é que o tratamento dure apenas enquanto os incômodos persistirem e a dosagem hormonal deve ser a mais baixa possível. Para responder a essa demanda, os laboratórios farmacêuticos buscam opções com pequenas quantidades dos hormônios (estrógeno e progesterona). A empresa belga Solvay, por exemplo, já lançou no Brasil uma versão com menor dosagem.

Antes de prescrever a medicação, no entanto, os médicos devem analisar se a paciente faz parte do grupo de risco para câncer de mama. Nessa lista encontram-se, por exemplo, mulheres com parentes de primeiro grau que tiveram o tumor. Se ela se encaixar nesse quadro, a reposição é proibida. Isso porque os hormônios usados no tratamento podem estimular o desenvolvimento de células cancerígenas. “Para mulheres predispostas a ter o tumor, o ideal é testar outros tipos de remédios que aliviem os sintomas da menopausa quando necessário”, aconselha o mastologista Sílvio Bromberg, do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo. Mesmo as mulheres que não correm riscos de ter câncer de mama devem receber o tratamento por no máximo cinco anos (depois disso, também aumentam as chances de ocorrer o problema).

O novo consenso sobre o tratamento está sendo adotado mundialmente. No Congresso Internacional sobre Ginecologia e Obstetrícia realizado recentemente em Florença, na Itália, a tônica do discurso foi a mesma daqui. Uma das mais respeitadas autoridades sobre o assunto, o americano Leon Speroff, da Universidade de Oregon, falou a ISTOÉ a principal mensagem que os profissionais querem passar. “O mais importante é sentir a paciente, avaliar se precisa de fato da terapia, medir as vantagens e desvantagens do tratamento. Parece óbvio, mas muitas vezes nos esquecemos das coisas mais simples”, resume.