Esquecida e desprezada, a zona portuária carioca era reduto de prostituição, cheia de cortiços e de sujeira. Várias tentativas frustradas de revitalizar a área foram feitas desde a administração de Francisco Pereira Passos (1836-1913), que foi prefeito do Rio de Janeiro no início do século XX. Mas, enfim, com os Jogos Olímpicos de 2016 no horizonte, o Cais do Porto começa a renascer. Com suas obras de construção e restauração, tem tudo para seguir o caminho da Lapa, bairro carioca que ressuscitou e virou um charmoso endereço de boemia. A inauguração do Museu de Arte do Rio (MAR) e da Escola do Olhar, primeira de ensino público de arte na cidade, na terça-feira 5, marca o início dessa nova fase, na qual sobressaem a vocação cultural e de eventos da zona portuária. No ano que vem, será a vez do Museu do Amanhã, projeto do badalado arquiteto catalão Santiago Calatrava, dedicado às ciências, localizado a poucos metros do MAR.

Grandes eventos são ótimas oportunidades para municípios transformarem áreas degradadas, como costumam ser as portuárias. Barcelona é o exemplo clássico disso. Para a Olimpíada de 1992, os catalães modernizaram a região do Barcelona Port Vell para sediar a Vila Olímpica. Investimentos em urbanização, hotelaria e turismo foram as prioridades. A experiência foi tão bem-sucedida que virou inspiração para todos, e, em 2004, outro local da cidade também malconservado foi reformulado por conta de um evento sobre a diversidade cultural do mundo. Depois, em 1996, Barcelona exportou especialistas para a Argentina, a fim de recuperar a área de Puerto Madero, em Buenos Aires. Com seus bares e restaurantes, ela é hoje uma parada obrigatória para turistas que visitam a capital portenha.

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JUNTOS
Uma suave onda de concreto e passarelas
unem o prédio histórico e o moderno

No Rio, o que se entende por zona portuária reúne os bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo, além dos morros da Conceição, Pinto, Providência e Livramento. Todos passarão por processos de revitalização urbana intensa até 2016. As mudanças têm atraído também investimentos internacionais. A Microsoft vai recuperar o prédio da primeira fábrica de gás do Rio para transformá-lo em um escritório de investimentos em novas empresas e o magnata americano Donald Trump erguerá, a partir do segundo semestre, cinco torres de 38 andares comerciais, ao estilo das Trump Towers espalhadas pelo mundo. A área ainda vai receber o Porto Olímpico, conjunto residencial que abrigará os árbitros durante os jogos do Rio e depois terá suas unidades postas à venda, a exemplo do que ocorreu em Barcelona.

“O MAR será o coração cultural da região”, disse o prefeito Eduardo Paes. A área reúne o maior número de espaços tombados na cidade, 76 no total. Para instalar o MAR, a prefeitura reutilizou o histórico Palacete Dom João VI (1916) e o antigo prédio do Hospital da Polícia Civil, que foi reformado. Unidos por uma suave onda de concreto no topo e por passarelas, os dois edifícios receberam investimentos de R$ 79,5 milhões. O projeto global, chamado de Porto Maravilha, pretende recuperar uma área de 5 milhões de m² com parcerias entre os setores público e privado. “Lugares historicamente preciosos estavam abandonados. Este museu vai dar um gás para que esta região se torne uma das mais bonitas da cidade”, aposta o poeta e agitador cultural Jorge Salomão.

“Estamos em uma cidade com visibilidade internacional, que precisa desses equipamentos culturais. Os museus serão âncoras importantes para o processo de revitalização”, afirma Léo Feijó, sócio do Grupo Matriz, que possui bares e casas noturnas na Lapa, bairro que viveu o mesmo processo de revitalização nos anos 1990. Feijó, assim como muitos empresários do bairro boêmio, vê a zona portuária como oportunidade de negócio e considera investir na região após o fim das obras. É preciso, porém, resolver o problema do transporte público, ainda um empecilho para a visitação do local. A promessa é de que tudo melhore com a implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), espécie de metrô na superfície, previsto para sair do papel até 2016.

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Foto: Daniela Dacorso/Ag. O Globo


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