Desde 12 de março, uma sexta-feira que viria se tornar 13 logo em seguida, a vida dos publicitários Nizan Guanaes, da África (que tem a conta da Brahma), e Eduardo Fischer, da Fischer América (que tem a conta da Nova Schin) e do mais popular sambista do País, Zeca Pagodinho, virou mais uma guerra de cervejas, desta vez entre a Nova Schin e a Brahma. Tudo porque Zeca Pagodinho, que levantava o copo de Schin e convidava o consumidor a experimentá-la, como era o refrão da campanha (Experimenta, experimenta!), está agora revelando em comerciais da Brahma que “tudo não passou de um amor de verão e que voltou para seu grande amor”, num samba-pagode assinado por Nizan Guanaes e Paulo César Bernardes. A música é ótima, faz cantar e dançar, como sempre acontece com Zeca Pagodinho. Mas criou uma confusão inusitada no mundo de competição incessante das cervejas. O publicitário Fischer, irado, acusa Zeca e Nizan de absoluta falta de ética. Nizan, baianíssimo mesmo nas situações adversas, diz que “Fischer perdeu o rebolado, depois a cabeça e agora está perdendo as maneiras”.

 

Amor de verão

Quem já não viveu um amor de verão
Até tentou e descobriu que era ilusão
Coisa de momento que balança o coração
Mas meu amor não tem comparação

Sem ela não tem papo
O pagode não dá liga
Sem ela não há festa
Ela refresca a minha vida
Cair em tentação pode ocorrer com qualquer um
Mas grande amor só existe um

Fui provar outro sabor, eu sei (Bis)
Mas não largo meu amor, voltei

 

Fischer ataca a falta de étic

ISTOÉ – Essa confusão levou as duas marcas a aparecerem mais do que aparecem na mídia?
Eduardo Fischer –
Obviamente, as marcas estão aparecendo, mas perde a sociedade brasileira, perde a ética do nosso negócio, perde a ética da classe artística, perde a moral das relações comerciais. Feriram-se todos os códigos morais e éticos do nosso negócio.

ISTOÉ – Suas críticas são baseadas principalmente na ética?
Fischer –
É o núcleo da questão. A ética falhou em todos os sentidos. A agência, ao pegar alguém com um contrato em vigência, abriu uma exceção única no nosso negócio. O artista, com um contrato em vigência, vai para o concorrente e passa a falar mal da empresa em que estava atuando.

ISTOÉ – Zeca Pagodinho fala mal da Schin na música da Brahma?
Fischer –
Não, mas aquela história de amor de verão, voltei porque essa é melhor… Isso é uma temeridade.

ISTOÉ – O que a cervejaria e a Fischer vão fazer?
Fischer –
Já estamos fazendo. Todas as medidas processuais cabíveis serão tomadas, como disse o Adriano (Adriano Schincariol, 27 anos, o novo diretor-superintendente da empresa). Além de ter cometido esse dolo, ele (Nizan Guanaes) ainda canta de galo, se vangloria.

ISTOÉ – O que se argumenta é que quando assinou o contrato com a Schin Zeca Pagodinho avisou que bebia Brahma.
Fischer –
São coisas totalmente díspares. Eu desconheço esse acordo. Na hipótese de ser verdade, é bem diferente ele tomar Brahma no banheiro da casa dele, fechado, e ir a público, para 100 milhões de pessoas, e fazer o que ele fez. Se o amor da vida dele era a Brahma, eu pergunto: já que ele (Nizan Guanaes) sabia, porque não teve a idéia de convidar o Zeca Pagodinho para fazer propaganda antes da Schin? O comercial vem responder para a imensa maioria dos interessados que não foi por amor coisa nenhuma. Foi por dinheiro.

 

Nizan defende Zeca

ISTOÉ – A Schin sabia que Zeca só bebia Brahma?
Nizan Guanaes –
Zeca Pagodinho fez um trabalho profissional para a Nova Schin, como atores podem fazer para armários populares. Duvido que essas pessoas sejam obrigadas a consumir tais produtos. O Zeca, antes de assinar o contrato, dizia para a Schincariol: “Quero lembrar que eu bebo Brahma.” Quando a Schin começou a ver na imprensa fotos dele tomando Brahma, começou a se sentir desconfortável e pegar na perna dele. Zeca fez um trabalho profissional para a Schin, como atrizes e atores fazem. Ninguém vai achar que o garoto da propaganda de esponja de aço fica lavando panela em casa. Quem ouve a Schin falando pensa que ela é uma fofinha que nunca fez nenhum tipo de provocação. Quando a nova Schin foi lançada, ela usou a tartaruga da Brahma. Por isso, eles foram tirados do ar pelo Código de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar). Agora o Conar indeferiu o pedido da nova Schin porque considerou que o comercial não denigre o concorrente.

ISTOÉ – O que se pergunta também é por que ele rescindiu o contrato antes do tempo.
Nizan –
Ele fez, como disse, um trabalho como profissional, como tantas outras celebridades fazem. Fez dois filmes da campanha “experimenta”, para a qual foi contratado. Ele era obrigado a acompanhar essa campanha específica, que saiu do ar. Fico revoltado quando agridem o Zeca Pagodinho.

ISTOÉ – A campanha é acusada de ferir a ética.
Nizan –
Não vou ficar acendendo o Eduardo. Ele perdeu o rebolado, depois a cabeça e agora está perdendo as maneiras.

ISTOÉ – Como acabará essa história?
Nizan –
Vai haver uma coisa arrastada na Justiça e em setembro termina o contrato do Zeca e o desquite das duas partes. E aí as coisas vão se esclarecer.