Além do sobrenome famoso, ligado à indústria do papel e da celulose, as irmãs Eva (1903-1991) e Ema Klabin (1907-1994) tinham em comum um depurado gosto pela arte que resultou em duas preciosas coleções. Reunido em sua antiga casa na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, desde 1995 o acervo de Eva atrai visitantes para a Fundação Eva Klabin Rapaport com suas 1.100 peças arqueológicas e telas flamengas, renascentistas e inglesas. Com planos de abrir as portas no final do ano, no bairro dos Jardins, em São Paulo, a Fundação Ema Klabin também trará a público um conjunto de 1.515 itens entre arte africana, pré-colombiana, asiática e pintura moderna nacional e internacional. Uma pequena amostra destas valiosas aquisições pode ser conhecida na exposição Universos sensíveis – as coleções de Eva e Ema Klabin, em cartaz na Pinacoteca do Estado, em São Paulo.

Curador da parte paulistana, Paulo de Freitas Costa comparou o conjunto de obras de Ema a uma sinfonia e o dividiu em cinco movimentos. Na sala A tradição européia, se misturam mármores gregos, relevos ingleses do gótico tardio e exemplares do maneirismo italiano. Seis figuras funerárias chinesas em cerâmica da dinastia Tang (séc. VIII) e um buda e dois atendentes japoneses em madeira da tríade Amida (séc.XII), destacam-se no segmento Contraponto oriental. Para o núcleo Raízes brasileiras, Costa escolheu algumas peças do Mestre Valentim, sobreviventes da demolição da Igreja de São Pedro dos Clérigos, no Rio de Janeiro, e dois Frans Post, Vista de Olinda (c.1650) e Igreja de São Cosme e Damião (séc.XVII). Belíssimas telas de Lasar Segall, Portinari, Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral preparam para o gran finale da coleção de Ema, na sala Últimas aquisições, trazendo as telas Paisagem com árvores ao vento (c.1919), de Chaim Soutine, e Casal com flores e galo vermelho (1957), de Marc Chagall.

Mais poética, a curadoria de Marcio Doctors abre o percurso das obras de Eva com um relógio que se move ao contrário e o fecha com um espelho diante de duas telas caras à colecionadora – Retrato de Mrs. Williams, do inglês Thomas Lawrence, e Retrato de Mr. Crichtley, do também inglês George Romney. A meio caminho, no segmento denominado A arte como origem, exemplares do Egito antigo, como o Esquife de gato, e do período helenístico grego, como as delicadas tanagras, pequenas esculturas de terracota feitas entre os séculos IV e I a.C., sobressaem-se. Mas o ponto alto são as inúmeras madonas do núcleo A maternidade como origem, dedicado ao Renascimento italiano e seus desdobramentos, entre elas a Madona com menino e São João Batista, atribuída a Botticelli, e a curiosa Madona do menino travesso, em argila policromada, atribuída ao chamado Mestre das Madonas dos Meninos Travessos, que mostra a sorridente criança abrindo a blusa de Nossa Senhora. Fechando o Renascimento, diante da sala de imponentes retratos ingleses, um gigantesco Tintoretto, Retrato de Nicolaus Padavinus (1589), leva o visitante a se deter mais sobre os traços maneiristas do mestre veneziano, um dos vários motivos para se visitar esta exposição que resume uma vasta história da arte.