Embora o aniversário de dez anos
do Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade só aconteça em 2005, seu diretor, o crítico Amir Labaki, já começou a comemorar. Motivos não faltam e o principal deles é a constatação do crescimento concreto da produção do gênero no Brasil. Criado em 1996, o festival é o primeiro demonstrativo disso. Naquele ano, a organização apurou 50 títulos produzidos em território nacional. Nessa nona edição, que acontece no Rio de Janeiro e em São Paulo
entre 25 de março e 4 de abril, e em Brasília entre 6 e 11 de abril, a safra nacional inscrita foi cinco vezes maior. Fundamental para a projeção de realizadores como João Moreira Salles, que venceu em 1999 com Notícias de uma guerra particular, ou Paulo Sacramento, de O prisioneiro da grade de ferro, vencedor em 2003, o É Tudo Verdade agora serve de plataforma para novíssimas pesquisas narrativas de nomes surgidos da videoarte, entre eles, Cao Guimarães, Carlos Nader e Lucas Bambozzi.

Na visão de críticos e cineastas, como Ricardo Miranda, o documentário sempre foi um gênero marcante no Brasil. “O cinema brasileiro nasce documental. O primeiro registro feito no País é do imigrante italiano Pascoal Segretto, que filma a Baía de Guanabara, em 1898”, observa Miranda, que apresenta na mostra O Estado das coisas o filme Descobrir, um cruzamento de diferentes representações da história nacional. Mesmo que a trajetória do cinema brasileiro tenha sido pontuada por grandes documentários, a adesão do público em salas de cinema é fenômeno recente. Pela primeira vez, três deles ficaram entre as dez maiores bilheterias do ano: Nós que aqui estamos por vós esperamos , em 1999; Janela da alma, em 2002; e Surf adventures, em 2003.

Os papéis protagonistas nesta retomada do cinema e do vídeo documental são creditados à televisão – parceira histórica, desde o
Globo Shell nos anos 70 – e ao festival, que este ano está movimentando R$ 700 mil e exibindo quase 100 títulos. No programa figuram estrelas como o britânico Kevin Macdonald, que pesquisa as fronteiras com a ficção em Touching the void, uma reconstituição da traumática escalada de alpinistas britânicos aos Andes peruanos. “Macdonald prossegue sua experiência com o que chamo de thriller-documentário, da mesma forma que 33, de Kiko Goifman, em cartaz nos cinemas, é uma tentativa de documentário-noir”, diz Amir Labaki, desde novembro passado um dos quatro membros do conselho do Festival de Amsterdã, o mais importante da categoria. Há ainda no festival veteranos como o americano Frederick Wiseman, opositor do “documentário-evento” de Michael Moore.

Calcula-se hoje no Brasil uma média anual de 15 produções nacionais

em salas de cinema, mas foi nas tevês a cabo que o documentário conheceu expansão real. “Isso ampliou a janela para a produção

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

não-ficcional no mundo”, diz Labaki. Segundo Francisco César Filho, integrante do comitê de seleção do É Tudo Verdade, o documentário se encontra em um esquema mais profissional que a ficção. “Os diretores viabilizam a produção e a veiculação de uma tacada só”, diz. Para a classe documentarista como um todo, lucro ainda é ficção. Mas, considerando-se as inúmeras áreas de atuação documental – da psicanálise ao esporte –, as emissoras abrem frentes de veiculação.

Dá para imaginar o alcance do gênero se o desempenho das tevês

por assinatura no Brasil tivesse correspondido à expectativa inicial

de dez milhões de assinantes.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias