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Emocionados com as palavras de Bento XVI em sua última audiência. Essa foi a resposta quase unânime dos brasileiros que deixavam a Praça São Pedro.

Emerson Lombardi, de Belo Horizonte, mora em Roma há quatro meses, além de ter sentido uma grande emoção “espera que a escolha do novo Papa seja inspirada por Deus”.

Maria Regina Damásio, do Rio de Janeiro, relatou que a “cerimônia foi simples como tem que ser e que percebeu o Papa muito sereno e tranquilo com sua decisão”.

Laila Albonigal, da Argentina, ainda estava com a bandeira em mãos ao deixar a Praça. “Foram palavras profundas e muito significativas pelo peso da decisão”, disse.

Frei Evilásio de Andrade e Frei Rafael Pinheiro, ambos de Brasília, afirmaram que “a decisão do Papa foi um exemplo de humildade ao reconhecer o limite de suas forças”.

Irmã Zélia Ramires, que mora em Roma, ainda desfilava com a bandeira do Brasil quando foi abordada. “Cheguei às 7h. Estava bem na frente. Vimos o Papa de muito perto. É um ato de humildade muito grande aquele do Papa”.

Simone Craveiro e Edson Pessoa, de Maceió (AL), estavam de férias na Europa e fizeram questão de participar da audiência. Simone disse que “Bento XVI poderá ser um conselheiro do próximo Papa”.

A audiência desta quarta-feira foi a última aparição pública em massa de Bento XVI, que renunciou à liderança da Igreja Católica após menos de oito anos. Amanhã, ele se muda para uma residência de campo em Castel Gandolfo, onde viverá antes de abrigar-se definitivamente em um mosteiro.

Desafios e superação

Bento XVI afirmou que a decisão de renunciar foi tomada "não para o meu bem, mas para o bem da Igreja". Pouco depois das 10h30 (6h30 de Brasília) desta quarta-feira, ele entrou na Praça São Pedro para presidir uma audiência histórica diante de 150 mil pessoas presentes no Vaticano para homenagear o primeiro papa que renuncia em sete séculos de história.

O Pontíficie percorreu a praça no papamóvel para ficar mais próximo de fiéis de todos os cantos do mundo, que o saudaram com canções e cartazes enquanto tremulavam bandeiras de vários países. Depois, conduziu a tradicional audiência pública das quartas-feiras, na qual lembrou os desafios do pontificado. Foi a última e de número 348 dos quase oito anos que ficou à frente do ministério Petrino.

O Papa iniciou sua fala, em italiano, agradecendo à multidão reunida para se despedir dele. "Estou comovido, vejo a Igreja viva", disse.

Logo no início, ele lembrou o desafio que foi colocado à sua frente ao ser escolhido Sumo Pontífice em 2005. "No dia 19 de abril de 2005, quando abracei o ministério petrino, disse ao Senhor: ‘É um peso grande que colocais nos meus ombros. Mas, se me pedes, confiando na vossa palavra, lançarei as redes, seguro de que me guiareis’", disse. "E, nestes quase oito anos, sempre senti que, na barca, está o Senhor, e sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas do Senhor".

"Sentindo que as minhas forças tinham diminuído, pedi a Deus com insistência que me iluminasse com a sua luz para tomar a decisão mais justa, não para o meu bem, mas para o bem da Igreja", disse Bento XVI, falando sobre sua decisão de renunciar ao Pontificado. "Dei este passo com plena consciência da sua gravidade e inovação, mas com uma profunda serenidade de espírito".

Bento XVI afirmou que, apesar de deixar suas atividades oficiais, seguirá acompanhando o caminho da Igreja. "Não estou abandonando a cruz, mas permaneço de maneira nova perto do Senhor Crucificado".

Bento XVI também fez uma possível referência aos escândalos que envolveram a Igreja durante o seu Pontificado. "O Senhor nos deu muitos dias de sol e ligeira brisa, dias nos quais a pesca foi abundante. Mas também momentos nos quais as águas estiveram muito agitadas e o vento contrário, como em toda a história da Igreja, e o Senhor parecia dormir", disse o Papa. Contudo, na sequência, Bento XVI disse que se sentiu como São Pedro com os apóstolos na barca no lago da Galiléia e que sempre soube que o Senhor estava no comando da barca.

Ele concluiu pedindo aos fiéis que rezem pelos cardeais que vão escolher o novo papa e pelo seu sucessor. Após encerrar sua fala em italiano, ele repetiu o pronunciamento, o dividindo em trechos lidos em línguas diferentes.

Dirigindo-se especificamente aos fiéis de língua portuguesa, disse: "Amados peregrinos de língua portuguesa, agradeço-vos o respeito e a compreensão com que acolhestes a minha decisão. Continuarei a acompanhar o caminho da Igreja, na oração e na reflexão, com a mesma dedicação ao Senhor que vivi até agora e quero viver sempre".

A estimativa inicial da Santa Sé aponta que cerca de 150 mil pessoas, incluindo muitos cardeais, bispos e personalidades, acompanham a última bênção de quarta-feira, a de número 348 de seu pontificado, iniciado em abril de 2005. Estima-se que mais de 5,1 milhões de pessoas acompanharam as audiências do Papa nesse período.

Terminada a leitura de seu pronunciamento, iniciou-se um período de orações e, posteriormente, Bento XVI retornou ao papamóvel e fez seu último desfile de saudação aos fiéis.