A corrupção desavergonhada encontra campo fértil na impunidade. Do mensalão do PT ao mensalão dos tucanos, alcançando na atual temporada a legenda do DEM, há para todos os gostos, vertentes ideológicas e graus de periculosidade. O aumento das provas documentadas, das gravações de cenas escabrosas e da capilaridade da prática entre as mais altas patentes de governo só demonstra quanto esses personagens se imaginam imunes a penas, a cobranças da sociedade, verdadeiros paladinos da gatunagem, acima da lei e do respeito ao bem público. Tome-se o atual caso do governador José Roberto Arruda. Escorraçado do Senado anos atrás por quebra de decoro, pilhado fraudando o painel de votação da Casa, ele não se intimidou em repetir a dose de práticas imorais e ilegais depois que recebeu uma nova chance nas urnas. Resiste no posto não apenas por apego ao poder, mas por medo do julgamento na câmara comum de criminosos.

Arruda deixou o DEM para não ser expulso, mas não quer renunciar ao governo de Brasília, mesmo sem nenhuma condição de seguir adiante no posto. Lançou-se nos últimos dias numa estratégia torpe para abafar o caso. Passou por cima do partido ao recorrer ao Judiciário para evitar um julgamento político. Redistribuiu as lideranças na Câmara Distrital para garantir o comando das comissões que irão analisar seus pedidos de impeachment e, não satisfeito, ainda jogou a polícia contra manifestantes que exigem sua saída imediata. Nas ruas, na Esplanada dos Ministérios, na Praça dos Três Poderes, o povo tentou sem armas fazer valer seu direito de protestar. Foi combatido a cassetetes, bombas e cavalaria armada, numa luta desigual. No Congresso deve desembarcar um projeto do Executivo que estabelece como hediondo e inafiançável o crime de corrupção pública. A ideia é do próprio presidente Lula, que, naturalmente, não deixa de aproveitar o ambiente propício para fazer uma exploração política do tema. “Mais um degrau no combate à safadeza”, disse ele no anúncio, quase esquecido de que esquemas de desvios de recursos para a compra de apoio político também vicejaram no ambiente de sua administração. Como diz o canto popular: se gritar pega ladrão, não fica um.