Imagine o que é vencer 318 quilômetros com etapas de esportes radicais, sendo 105 km de caiaque, 40 km de cavalo, 42 km de caiaque inflável, 37,5 km de caminhada e 93,5 km de montanhismo, tudo isso numa disputa pelo menor tempo. Chamada de corrida de aventura, esse desafio está ganhando cada vez mais adeptos no mundo. A modalidade surgiu na Nova Zelândia há dez anos, país considerado a meca dos esportes de risco por sua diversidade natural. A competição ganhou popularidade em 1996, quando o canal Discovery resolveu cobrir uma das provas internacionais, a Eco-Challenge. Para o ano 2000, a Eco-Challenge em Bornéu, na Malásia, já garantiu quase todos os participantes. Foram 375 propostas no momento em que as inscrições foram abertas. A última Eco-Challange foi realizada na Patagônia, dentro do Parque Nacional Nahuel Huapi, na primeira quinzena de dezembro. Duas equipes brasileiras participaram. A Brasil 500 anos, de Belo Horizonte, ficou em 17º e a Brazil Adventure Team, de São Paulo, não chegou a completar a prova.

A Eco-Challenge é uma espécie de videogame, em que o inimigo vai aparecendo aos poucos. São montanhas, rios e matas a serem vencidos. Cada equipe composta por quatro pessoas – sendo que um dos integrantes deve ser do sexo oposto – recebe um “road book”, uma espécie de mapa de curva de níveis. Com bússola nas mãos os competidores tem de plotar no mapa a rota estipulada pela organização. Durante o trajeto a ser cumprido, a equipe tem de passar por alguns pontos definidos, chamados de PC – controle de passaporte. A cada três modalidades cumpridas, o grupo chega ao campo de Apoio, lugar onde são colocados os equipamentos para as etapas seguintes. O desafio dos aventureiros, ao receber o “road book”, é planejar a melhor rota para se chegar ao PC determinado.

Nos PC, os competidores registram o horário de entrada e saída de sua passagem. Nos campos de apoio estão as gearboxes, caixas seladas com todos os equipamentos individuais de cada equipe para serem utilizados de acordo com a logística definida. É preciso também excelente navegação e relacionamento entre a equipe. A técnica é administrar as poucas horas de sono, e manter um ritmo. “Não é fácil a convivência durante a prova. Você tem de suportar as dificuldades de cansaço, que nem sempre são as mesmas dos seus companheiros”, comenta Laura Furtado, professora de Educação Física que integrou a equipe Brasil 500 anos.

Olhando os currículos dos 204 participantes é possível encontrar médicos, bombeiros, empresários, economistas e até um limpador de janelas, como John Howard, capitão da equipe vencedora, a Team Greenpeace, da Nova Zelândia. Na prova da Patagônia, até experientes oficiais de resgate da Força Aérea Americana, a equipe Tier One, se perderam e não completaram a prova. Assim como a equipe americana Rubicon, única com três mulheres e um homem conseguiu conquistar o quarto lugar.

Para se ter uma idéia da dificuldade da prova na Patagônia, já na largada, três integrantes de cada equipe tiveram de nadar nas águas geladas do lago Espejo. Com os caiaques a 100 metros da margem, apenas um dos participantes teve de aguardar os três companheiros alcançarem a nado a embarcação. Depois todos carregaram o barco até chegar no lugar onde estavam os cavalos. “Foi uma loucura nadar na água fria, com aquele bando de pessoas batendo os braços, e tentar identificar qual seria o nosso caiaque”, lembra Karen Lundgren da equipe americana Team USA.