Imagine que alguém tire várias fotografias suas sem roupa e essas fotos passem a circular, de mão em mão, na vizinhança. Seria muito constrangedor. Agora e se essas fotos fossem expostas pela Internet, à sua revelia, para milhões de pessoas em todo o mundo? Foi o que aconteceu com a estudante M., do colégio Princesa Isabel, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro. Há três anos, quando tinha 14, ela posou nua para o namorado. Em agosto deste ano, virou atração mundial. M. não sabe de quem partiu a iniciativa. Neste caso, a rede mundial de computadores mostra que pode ser um poderoso instrumento de maldade e vingança.

Depois de serem reproduzidas em sabe-se lá quantos e-mails, as fotos foram expostas numa homepage do provedor americano Geocities, através do site Yahoo, também americano. Há um mês, o advogado Sérgio Maron conseguiu tirar a página do ar. Mas o estrago na vida de M. já estava feito: crises familiares, noites em claro e o fim de um sólido romance de três anos. “Os amigos são solidários, mas os moleques me olham na rua, fazem piadas, é horrível”, conta M. Ela é apresentada na Internet com palavras de baixo calão. Os textos atribuem ao namorado traído o atentado à privacidade.

“Ele jamais faria isso”, confia M. Sua mãe, uma comerciante, também acredita “no ex-genro”, que visitou parentes de M. para jurar inocência. “Ele jamais nos daria esse incômodo inimaginável”, defende a mãe. Mesmo assim, o namoro acabou. “Será um trauma para o resto de nossas vidas”, diz A., o ex-namorado, 18 anos, estudante de Direito. Eles desconfiam que uma cópia tenha sido desviada do laboratório onde o filme foi revelado, em Botafogo. O advogado, que aguarda informações do Yahoo para identificar o autor e processá-lo, diz que, em nome da liberdade, a Internet não pode estar à margem do Direito. Ele planeja processar o provedor, que não exige prova do direito de uso das imagens divulgadas pelos usuários. “Até que se criem leis novas, valem as que existem.”

Num trabalho de dois anos com o Ministério Público do Rio, o estudante de engenharia Wanderley de Abreu Júnior, 21 anos, identificou 200 pedófilos virtuais. Para ele, é possível localizar o computador usado no crime. Difícil é provar a autoria. “A Internet é incontrolável”, diz Wanderley. Ele dá conselhos para evitar pesadelos como o de M.: tirar fotos como essa só com máquinas instantâneas ou acompanhar a revelação do filme, guardando o negativo. Caso contrário, uma foto pode transformar num inferno a vida de quem cai na rede.