Quem vai a museus e sente vontade de “grudar” numa excursão só para ouvir as explicações do guia vai delirar com a novidade. Até 13 de fevereiro de 2000, o Museu Whitney de Arte Americana, na esquina da avenida Madison com rua 75, em Nova York, sedia uma das mais avançadas experiências envolvendo arte e tecnologia. Visitantes da segunda parte da exposição O século americano: arte & cultura 1900-2000 são selecionados a dedo para percorrer a galeria apoiando no antebraço uma prancheta eletrônica. Com fone de ouvidos, monitor colorido e caneta especial para tocar nos itens apresentados na tela, a prancheta mostra vídeos dos pintores, trechos de documentários, fotos do ateliê dos artistas, músicas, poemas e fatos políticos que marcaram a época representada nos quadros. Toda a narração é convertida em palavras escritas para que os deficientes auditivos possam ler na tela.

Existem apenas cinco pranchetas na exposição que abrange a arte americana produzida a partir de 1950. Cada uma pesa cerca de um quilo e meio, tem chip Pentium 166 MHz rodando Windows 98, armazena o equivalente a 1.111 disquetes e custa US$ 2.000. Quem paga a conta do projeto é a fabricante de chips Intel, com sede na Califórnia. A tela inicial da prancheta revela a intenção de traduzir o tour multimídia para outros quatro idiomas: francês, alemão, italiano e espanhol. Por enquanto, a experiência está restrita à língua de Shakespeare. Deve continuar assim até o final da exposição. Enquanto isso, a Intel pretende tornar as pranchetas acessíveis a todos os bolsos. Para que os museus as comprem e cobrem aluguel dos visitantes pelo uso. Esse é um dos motivos que levaram a Intel a empenhar-se na venda de pranchetas para fábricas, indústrias, hospitais e linhas de montagem. “É a única forma de esses PCs de mão baratearem o suficiente para que os museus tenham acesso à tecnologia”, revela Ralph Bond, gerente de educação e consumo da Intel e mentor da idéia. O próximo passo é equipar esses PCs de mão com capacidade para acessar a Internet. Em vez de fios, poderiam plugar-se à rede usando ondas de rádio emitidas para sensores posicionados atrás das paredes.

Usadas para coletar dados em ambientes fabris, as pranchetas produzidas pela Mitsubishi com chip Intel são velhas de guerra. Existem há pelo menos quatro anos em escala comercial. A novidade é o uso do equipamento nas artes plásticas. O tour multimídia foi elaborado pela equipe de educadores do museu. Junto dela esteve Bond, mestre em História da Arte que trabalha com computadores há 18 anos. “Como professor de Arte, sei o quanto a visita a um museu pode ser enriquecedora com informações sobre cultura, política e questões sociais”, avalia.

O universo de testes do Whitney começou na primeira parte da exposição, que mostrou obras de 1900 a 1950 e foi de abril a agosto. Na segunda parte, o exercício ficou restrito a cinco telas pintadas no decorrer da década de 50. Escolheram-se os quadros de Alex Katz, Jay DeFeo, Jackson Pollock, Jasper Johns e Mark Rothko. Em vez de apenas apreciar as obras, o visitante que estiver armado com uma prancheta pode fazer um mergulho no tempo. Ao contemplar Três bandeiras, por exemplo, sabe-se que Jasper Johns usou seu pincel como instrumento de protesto político. Colou três bandeiras dos EUA, uma sobre a outra. A obra foi fruto de um ambiente de terror. O mundo artístico vivia atormentado pelo macarthismo, o período de caça aos comunistas patrocinado pelo senador americano Joseph McCarthy.

Olhar atento – Diante da imensa tela A rosa, de Jay DeFeo, aprende-se sobre a dificuldade de transporte dos quadros da artista. Enquanto ouve-se o relato sobre a biografia da pintora, os olhos do observador voltam-se para a tela pendurada na parede. Pudera. A prancheta avisa, em letras garrafais: “Por favor, olhe para a obra.” Quando tiver algo a mostrar, o locutor chama a atenção do espectador: “Agora olhe para a tela do computador.” Dali a poucos segundos, a voz do narrador é substituída pela leitura inflamada de um poe-ma. Nada mais, nada menos que Allen Ginsberg declamando Uivo, poema que se tornou um dos marcos do movimento beatnik. Aprende-se ainda um pouco sobre a proposta literária e libertária encabeçada por Jack Kerouac, William Burroughs e pelo próprio Ginsberg, que fez a vida cultural ferver na San Francisco dos anos 50.

O ponto alto da visita está reservado às obras de Jackson Pollock. Suas telas ganham nova dimensão estética depois que se assiste, na prancheta, a um vídeo sobre o método de produção do artista. Indisciplinado, original e criativo, Pollock pintava sobre o chão, usando tintas e pincéis de parede. Andava de um lado para outro, lançando pinceladas sobre a tela, com as costas curvadas. Além da exibição de vídeos e textos, a prancheta tem uma versão para crianças. Basta apontar a caneta sobre o tour infantil. Mais colorida, trata das mesmas cinco obras. As atividades lúdicas relacionadas aos quadros são de cair o queixo. Depois de uma aula sobre a técnica de policromia usada por Mark Rothko, o PC apresenta brincadeiras para a criança criar sua própria combinação de tons e dégradés.