…O dever do homem público, o dever do amigo, o dever de chefe de família. Se o seu tempo era pouco, seu afeto supria, na intensidade, as horas da ausência. Sua família e amigos sempre ansia-vam pela sua chegada, que percebíamos pela firmeza dos passos, pelo calor da voz, pela ternura das mãos e o brilho dos olhos. (…) Ele nos amava também no amor que devotava ao povo, na misteriosa e singular identidade com o Brasil. Em sua alma, ele era o barro de nosso chão, o contorno de nossas montanhas, as estrelas do Cruzeiro, a bravura de nossa gente.

Sei disso hoje, quando ao amor de filha se acrescenta o reconhecimento da cidadã. Vejo como ele foi capaz de dar ao povo a sua alegria, o seu entusiasmo, a sua incansável disposição para trabalhar, a sua paciência, a sua certeza de que o nosso País não é menor no mundo, e que, com a vontade de seus homens, ninguém o vencerá. Quando fez o seu caminho para o mundo, levou as imagens da infância, vivida em Diamantina, como o seguro de viagem. Neto de um imigrante tcheco, que buscava o Serro empurrado pelo sonho, órfão de pai muito menino, meu pai construiu o seu destino na obstinação de servir. Escolheu a medicina, e descobriu, ao formar-se, que o seu amor ao povo pedia-lhe mais ainda. (…) Presidente da República, cumpriu o que prometera: convocou o futuro para o seu mandato, e, em cinco anos, construiu o que exigiria meio século. (…) Em nome de seus descendentes, em nome da memória de minha mãe, sou grata a essa homenagem que os leitores e editores da revista ISTOÉ lhe prestam, na pessoa de Domingo Alzugaray, ao considerá-lo o Brasileiro do Século. Mas estou certa de que ele só aceitaria esse título com a convicção de que ele foi um brasileiro do século, entre todos os brasileiros do século. Um brasileiro igual a tantos outros, anônimos e patriotas.(…)