Os principais crimes que abalaram Alagoas nos últimos anos apontam para uma só direção. Um depoimento menosprezado pelas autoridades estaduais, mas que não passou em branco pela CPI do Narcotráfico, mostra que entre as mortes de PC Farias e da deputada estadual eleita Ceci Cunha (PSDB) existe muita coisa em comum. E essas coisas conduzem para um único protagonista: o deputado Augusto Farias (PPB-AL), irmão de PC. Na CPI, porém, os deputados trabalham com a convicção de que uma apuração mais detalhada poderá chegar a políticos alagoanos mais graúdos. “Em ambos os casos foi armada uma rede de proteção e cumplicidade que envolve muita gente importante”, disse a ISTOÉ, na última quinta-feira, um dos mais entusiasmados parlamentares da CPI.

Quando PC e Suzana foram encontrados mortos, as autoridades estaduais deram um veredicto em menos de seis horas: Suzana matara PC e se suicidara em seguida. A versão contou com o apoio da família Fa-rias e, publicamente, dos secretários de Segurança e de Justiça. No caso da deputada Ceci Cunha, pressionadas pelo ex-ministro da Justiça Renan Calheiros, também de Alagoas, as autoridades mostraram-se ainda mais rápidas. O depoimento já em poder da CPI mostra que minutos depois do assassinato da deputada, em dezembro de 1998, o então governador de Alagoas, Manoel Gomes de Barros, mandara prender o ex-deputado Talvane Albuquerque e três assessores dele: Jadielson Barbosa, Alécio Alves e Mendonça de Medeiros. Ao cumprir parte da ordem do governador (a Justiça não permitiu a prisão do deputado), os policiais acabaram aumentando a lista e prenderam também José Jorge Farias, o soldado Farias, conhecido ladrão de carga de Arapiraca (AL). Todos eles seriam os responsáveis pela morte da deputada. No mesmo dia, porém, o governador recebeu um telefonema de Augusto Farias e o soldado Farias foi colocado em liberdade no dia seguinte. Permaneceram na berlinda apenas os homens de Talvane.

Cerca de uma semana depois, em entrevista coletiva, o ex-governador, o ex-ministro da Justiça, o deputado Augusto e o senador Teotônio Vilela Filho tornaram pública uma gravação em que o pistoleiro Maurício Novaes, conhecido como Chapéu de Couro, acusava Talvane de ter tramado a morte de Ceci e até do próprio Augusto. Na morte de PC, a farsa do crime passional impedia qualquer outra investigação e assim, durante três anos, poupou os Farias e seus seguranças, que até hoje recebem proteção total, inclusive financeira, de Augusto. O direcionamento das investigações sobre o assassinato da deputada Ceci também favorece Augusto. Afinal, ao evitar qualquer apuração sobre as atividades do soldado Farias, ficou sob proteção um antigo amigo do irmão de PC.