No começo do Campeonato Brasileiro, a referência que o torcedor brasileiro tinha de Guilherme Cássio Alves, ou simplesmente Guilherme, o atacante de 25 anos do Atlético Mineiro, era de um jogador mediano com um visual fora de época formado por topete e costeletas. Cinco meses depois, mesmo antes de o Corinthians e o Galo entrarem em campo para o segundo jogo decisivo da competição, o atleta já tinha conseguido uma marca bem mais importante. Ficou nacionalmente conhecido pela facilidade com que coloca a bola no fundo das redes adversárias e conquistou o título de artilheiro do campeonato. A proeza já é suficiente para projetar qualquer um no cenário esportivo mundial, mas Guilherme fez mais. Tornou-se o primeiro a marcar três gols numa só partida decisiva e foi o autor do gol mais rápido da história das decisões – contra o Corinthians, no Mineirão, abriu o placar aos 15 segundos. Seria o bastante para elevar qualquer ego às nuvens, mas o jogador procura manter a humildade e evita fustigar dirigentes de Vasco e Grêmio, que não reconheceram o seu valor. “Não penso em vingança, de forma nenhuma.”

Guilherme reage à fama e ao assédio repentinos refugiando-se atrás de uma das irritantes frases feitas da grande coleção dos jogadores de futebol. “Isso é o resultado do trabalho do grupo”, recita. A fama de ter um temperamento difícil, intratável não é confirmada pelos companheiros de Atlético. Mas a passagem pelo Grêmio, em 1997, acabou pontuada de notícias de indisciplina que te-riam precipitado sua saída. No último episódio, a imprensa esportiva gaúcha especulou sobre uma fuga noturna da concentração gremista, que teria lhe rendido inclusive um hematoma no rosto. Guilherme se recusa a comentar o assunto. Diz apenas que talvez seja visto como alguém de temperamento forte porque sempre diz tudo o que pensa. Sobre bebida, comenta: “É claro que se estou de férias, de folga, tomo o meu chope. Todo mundo faz isso, negar seria muita mentira”, afirma. Presidente do Grêmio à época, Luiz Carlos Silveira Martins, o Cacalo, dá poucas pistas sobre o que o levou a vender Guilherme ao Vasco. “Não estava lá de madrugada, não sei se ele saiu da concentração.”

Negociado por US$ 3,3 milhões ao Vasco, em meados do ano passado. Sua trajetória seguiu discreta, não marcou muitos gols e acabou preterido depois da contratação de Edmundo e Viola. Talvez no pior negócio que já fez na vida, o todo-poderoso cartola vascaíno Eurico Miranda resolveu emprestá-lo em junho ao Atlético Mineiro, com preço do passe fixado em US$ 2,5 milhões. Basta que os dirigentes atleticanos depositem esse dinheiro, e pronto – Guilherme pertencerá ao time mineiro. “Não trato esse assunto como negócio”, irrita-se Miranda. Do outro lado, a sorte grande sorriu ao presidente do Atlético Mineiro, Nélio Brant. Por estimativas modestas, o passe do atleta não vale menos que US$ 15 milhões atual-mente. Mas esses cifrões podem subir ainda mais ao final da temporada. O empresário do jogador diz estar sendo assediado por clubes italianos, cujos nomes não revela. Seu salário iria então muito além dos cerca de R$ 50 mil que recebe hoje. Guilherme tenta se manter alheio ao rebuliço causado pela fama repentina e aproveita como pode o sucesso. Entre os torcedores, alavancou as vendas da camisa número 7 e entre as torcedoras é tratado como galã de novela global. “Já recebi cartas com calcinhas dentro.” Ele jura que a única preocupação agora é continuar usando os chutes e as cabeçadas que despenteiam seu topete para marcar os gols que o transformaram em um dos maiores jogadores do futebol brasileiro da atualidade.