O biquíni, inventado por um francês em 1946, se transformou em nossa principal força na moda e o pano de fundo, bem de fundo, para que a bunda assumisse o primeiro plano, sem restrições. Em 1951 a vedete Hirene Hosko, seria fotografada pela primeira vez de biquíni para a revista Voga, de Millôr Fernandes. O cenário, segundo levantamento do escritor Ruy Castro, no livro Ela é carioca, foi o Arpoador, praia que funcionou como um laboratório de costumes cosmopolitas da juventude carioca. Em pouco tempo, as moças assumiram definitivamente o direito de deixar aqueles quatro dedos abaixo do umbigo livres para o sol e daí em diante a centimetragem desceu muito. Exibir o corpo tornou-se sinônimo de liberdade, por isso a proibição do uso do biquíni proposta pelo presidente Jânio Quadros em 1961 era uma agressão aos rumos da história. A moda praia brasileira catapultou-se, contudo, com a invenção da tanga. E, como tudo que conquista as ruas, veio das ruas. A ninfeta Rose di Primo improvisou uma calcinha de tirinhas e foi para Ipanema. Tornou-se rapidamente a musa do verão. Foi capa de revistas estrangeiras e rapidamente a tanga começou a ser copiada no mundo todo. Isso foi em 1971 e três anos depois, batizada de string, ganhou os Estados Unidos. A revista Time Magazine anunciava na época que Jacqueline Onassis já havia garantido a sua. Na França, onde as confecções ainda resistiam ao novo modelo, as mulheres começaram a improvisar a tanga, confeccionando a calcinha a partir de dois lenços. A parte de cima, era outro lenço de seda que servia como sutiã. A versão de crochê também se popularizou, só que virou um símbolo quando Fernando Gabeira, recém-chegado do exílio, exibiu, também em Ipanema, o modelito de sua prima Leda Nagle. Como o primeiro biquíni a gente nunca esquece, ninguém mais esqueceu o Gabeira daquele verão. Mas o biquíni contestador de costumes, cada vez mais foi assumindo a função de papel de presente. Nenhuma nudez seria mais castigada. Com isso, o biquíni serviu para colocar as mulheres na bandeja, uma embalagem de objeto de desejo. Chegou ao auge do picanhismo, com o fio-dental na década de 80. Daí por diante não foi mais possível tirar pano de qualquer lugar e o jeito foi transformá-lo em um sucesso comercial com modelagens confortáveis e fáceis de serem exportadas. Como explica a historiadora Mary Del Priori, não sobrou nada a ser mostrado nos corpos nacionais e as mulheres passaram a investir na própria pele como um tecido a ser trabalhado, uma cintura sem pneus, pernas sem culotes, bundas sem celulite.