Esse era o nome do mais famoso lança-perfume importado, combustível da fase de ouro do Carnaval e que se confunde com a própria história da folia neste século. Em 1928, o País consumia 40 toneladas desse estimulante só nos dias de Momo. Com esse cheirinho confundindo as idéias, muita gente entregou-se a alegrias inconfessáveis e pulou de colombina em colombina ou de pierrô em pierrô ou de colombina em pierrô e vice-versa. O lança-perfume foi uma das invenções do século XX que ajudaram a manter o Carnaval, segundo os estudiosos, em sua função alienante, e por isso mesmo, divertidíssima. Foi um componente modernizante na folia que fabricava uma transformação coletiva capaz de esvaziar almas atormentadas e corações revolucionários desde 1641, data em que se pressupõe a festa se instalou por aqui.

Os dias em que o brasileiro esquece as desgraças mudaram muito de cara nesses 100 anos. Passou de uma autêntica manifestação de rua para uma alegria organizada, de dias de abandono a um evento rentável. A intervenção de Getúlio Vargas foi definitiva nesse perfil. Quando cria os departamentos de Turismo nos Estados na década de 30, ele monta a estrutura que iria oficializar o Carnaval a partir do estabelecimento de cronogramas e programações para os dias de folia. O corso, os cordões, as batalhas de confetes passaram a seguir o calendário determinado pelas prefeituras. Em 1932 é organizado o primeiro desfile de escolas de samba no Rio de Janeiro e a partir daí o Carnaval virava uma instituição. Tornou-se sinônimo de feriado e uma tradução de como a alegria se expressa de forma diferente a cada época. As marchinhas memoráveis da década de 30 foram sendo substituídas por sambas progressivamente mais velozes. Sua vertente mais agitada veio com o trio-elétrico. E de Dodó e Osmar, o trio se transformou numa vitrine para o axé music. Além do ritmo, o Carnaval viu sua face popular ser transformada em mercadoria. Das fantasias das escolas às mortalhas dos blocos de trio. O Carnaval ainda é uma amnésia coletiva que define nossa formação cultural. Mas como o lança-perfume proibido, no início dos anos 60 por Jânio Quadros, seu efeito alucinante foi se evaporando com a história.


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