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SEM PLANOS Para Zelaya, o futuro ainda é incerto

Esgotadas as hipóteses formais para seu retorno ao poder em Honduras, o presidente deposto Manuel Zelaya vê seu dilema agravar-se dia após dia. Com a negativa do Congresso em restituí-lo e a iminente posse do presidente eleito Porfírio Lobo em janeiro, resta apenas o exílio. Na quarta-feira 9, Zelaya fez a primeira tentativa de deixar o país em dois meses e meio, tempo em que permanece abrigado na embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Seu destino era o México. Mas o presidente de fato, Roberto Micheletti, condicionou o salvo-conduto à assinatura de uma carta de renúncia, o que Zelaya recusou. “O presidente eleito pelo povo está sendo mantido preso em seu próprio país”, disse Zelaya à ISTOÉ. Como agravante, o governo mexicano declarou “não haver condições” para receber o hondurenho. Enquanto isso, o chanceler Celso Amorim, sempre solidário, garantiu que não vai expulsar Zelaya da embaixada.

ISTOÉ – O sr. tentou deixar o país pela primeira vez desde que retornou em setembro. A ideia era exilar-se?
Manuel Zelaya – Fiz um pedido de salvo-conduto para poder estabelecer um diálogo por causa do problema que existe em meu país. O presidente da República Dominicana, Leonel Fernandez, sugeriu que eu fosse ao México como chefe de Estado, na condição de convidado distinto. Mas na última hora o governo Micheletti me impôs uma carta de renúncia. Essa era a condição para eu sair, então recusei.

ISTOÉ
– Sem permissão para sair nem voltar ao poder, qual o caminho?
Zelaya – O presidente eleito pelo povo está sendo mantido preso em seu próprio país. Me encurralaram na embaixada. Estamos sob um cerco militar muito duro. Não permitem visitas, não posso ver os deputados, líderes religiosos, empresários, nem minha família, nem partidários que me acompanharam 25 anos na luta política.

ISTOÉ
– Há alguma chance de o sr. reconhecer a eleição de Porfírio Lobo?
Zelaya – Absolutamente. Essas eleições não corrigem o golpe de Estado. Foram manipuladas por quem tem interesse em manter o atual estado militar. São eleições que mantêm no poder a casta militar, grupos políticos e até uma corte de Justiça, dominada pela oposição e que conspirou para me tirar do poder, quando fez um julgamento secreto e expediu a ordem de captura naquela noite de 28 de junho. E isso sem nenhum procedimento judicial legítimo, pois não tive sequer o direito de defesa.

ISTOÉ
– Mas a participação de 60% do eleitorado não legitima a eleição?
Zelaya – A participação dos hondurenhos não legaliza ou devolve o Estado de Direito em Honduras. É como vender um carro roubado. Vendê-lo e trocá-lo de dono não faz com que o carro deixe de ser roubado. A democracia foi roubada aqui.

ISTOÉ
– A crise em Honduras ajudou a divulgar seus dons artísticos. No “YouTube” há muitos clipes de suas performances. Qual ritmo lhe agrada mais?
Zelaya – O bolero, o guatango e o tango são os meus favoritos. Assim como o vals peruano, um ritmo que tem muita sonoridade. Pratico também a música llanera. O bolero ranchero é o que mais gosto de tocar no violão.

ISTOÉ
– Alguma tem lhe servido para amenizar a rotina na embaixada?
Zelaya – Há uma canção de Cesar Portillo de la Luz, um cubano, que se chama “Delírio”. Essa eu toco com frequência. Outra é “Chica de Ipanema”, que dedilho no violão. É bossa nova. Gosto muito também daquela do Vinícius, “Samba de una Sola Nota”, e daquela “Brasil, laralá laralá…”

ISTOÉ
– Quais seus planos para o futuro? Pretende seguir na política?
Zelaya – O sr. é jornalista, eu sou po­lítico. Nenhum de nós é vi­dente. Então não tenho como responder.


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