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PREPARO Annia usa a tensão a seu favor: estuda mais antes de uma apresentação

Ao ler o título desta reportagem, você pode estar se perguntando como é possível encontrar algo de bom no stress. Principalmente porque provavelmente, nesta época do ano, você esteja às voltas com a correria das compras, os prazos no trabalho, os compromissos com a família e os amigos… Enfim, vivendo o famoso stress de fim de ano. Mas a ciência tem sim uma boa notícia para você: o stress pode de fato lhe fazer bem. Entre outros benefícios estão a melhora do sistema de defesa do corpo e o aumento da concentração.

Porém, antes de qualquer comemoração, é preciso saber de que tipo de stress está se falando. Nesse caso, trata-se do chamado stress positivo. De acordo com a psicologia, ele é definido basicamente por dois fatores. O primeiro é o momento de sua ocorrência: ele surge antes de qualquer situação potencialmente ameaçadora. Nesta categoria estão incluídas desde as horas que antecedem a entrega de um trabalho importante ou uma fala em público até mesmo uma briga com a namorada. O segundo é sua duração: este tipo de stress pode durar de minutos a alguns dias. Se passar disso, torna-se um desgaste crônico e, em vez de bem, começa a fazer mal.

Na última semana, um novo trabalho evidenciou os benefícios deste gênero de tensão, quando bem administrada pelo indivíduo. Cientistas das universidades de Stanford e de Yale, nos Estados Unidos, divulgaram uma pesquisa na qual relataram que pacientes que encararam de forma mais positiva o stress de uma cirurgia de joelho à qual foram submetidos se recuperaram mais rápido do que aqueles que se comportaram de maneira contrária. Por visão positiva, entenda-se uma percepção de que, já que era mesmo necessária, a operação deveria ser algo a ser superado sem demora e, além disso, era uma possibilidade efetiva de se livrar de um problema.

“Se a pessoa vê os pontos menos ruins de uma situação difícil,
pode experimentar uma pressão positiva”
Suely Guimarães, psicóloga

Três meses antes, o mesmo grupo havia demonstrado, em ratos, que os animais expostos a episódios curtos e pontuais de stress apresentavam resposta mais potente do sistema de defesa do corpo. O fenômeno contribuiu para que essas cobaias tivessem taxas mais baixas de carcinoma, um tipo de tumor de pele bastante vulnerável ao ataque das células protetoras do organismo. Além disso, a melhora do sistema imunológico se estendeu por mais alguns dias: entre os ratos que passaram pelo stress de curto período, os genes associados ao funcionamento das células de defesa continua­vam ativados mesmo após o encerramento do experimento, ao contrário do observado entre os que não foram submetidos à tensão.

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Os cientistas acreditam que esse tipo de resposta está relacionado à reação natural que o ser humano tem diante de situações desafiadoras. De fato, o stress nada mais é do que a preparação do organismo para enfrentar o que a mente entende como um perigo. Por isso, o corpo entra em prontidão, preparado para uma guerra: o coração bate rápido para bombear mais sangue para os órgãos, o cérebro se concentra no alvo a ser debelado e as células de defesa são mobilizadas. “E elas se redistribuem”, explicou à ISTOÉ Firdaus Dhabhar, coordenador das pesquisas de Stanford. “Essas estruturas passam a se concentrar na pele e nos gânglios linfáticos, duas estações de batalha importantes.”

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FOCO Nos dias de muito trabalho, Renato usa o stress para selecionar prioridades

Uma pesquisa da Universidade de Queensland, na Austrália, demonstrou mais uma faceta dessas reações. Os estudiosos descobriram como a noradrenalina – uma das substâncias produzidas nessa prontidão – prejudica o processamento dos sinais de dor, levando a uma analgesia durante um certo período. No cérebro, a concentração e o alerta desencadeados são capazes de ajudar, por exemplo, quem está prestes a apresentar um trabalho na escola ou na empresa. A relações-públicas paulista Annia Vuolo sempre usa a seu favor esse estado de espírito quando se vê diante de um desafio. “Aproveito a adrenalina e me preparo, estudo, memorizo dados”, conta. O gerente de condomínios Renato Brunelli também aprendeu, intuitivamente, a se beneficiar do stress sentido nos dias em que o volume de trabalho é maior. “Funciona como um estimulante para organizar o tempo e selecionar as prioridades. Tenho satisfação em fazer isso e assim resolver tudo”, diz ele, que chega a atender 80 pessoas por dia por telefone e e-mail.

O que os pesquisadores tentam agora definir é durante quanto tempo é possível desfrutar desses benefícios. “Muita coisa ainda não se conhece. Por exemplo: quanto exatamente de stress é suficiente para ficar apenas com o lado bom do alerta, sem tornar isso um problema crônico?”, pergunta Ana Maria Rossi, presidente da seção brasileira da International Stress Management Association (Isma-BR). “É um campo ainda muito polêmico.” A ciência também quer saber como se preparar mentalmente para usufruir desses efeitos. Afinal, sabe-se que nem todos são capazes disso. Mas há algumas pistas, como indica a psicóloga Suely Guimarães, da Universidade de Brasília. “A avaliação que a pessoa faz da situação que se apresenta, por exemplo, é importante. Se ela consegue ver pontos menos ruins, pode experimentar um stress positivo.”
Colaborou Mônica Tarantino

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