[posts-relacionados]Foi em pé, com as mãos no rosto, desfazendo-se em soluços e lágrimas, que o atleta sul-africano Oscar Pistorius, 26 anos, ouviu do juiz Desmond Nair a acusação feita contra ele: assassinato premeditado. A audiência realizada na sexta-feira 15, na qual ele permaneceu calado, é o mais trágico capítulo na história do homem responsável por quebrar as fronteiras entre o esporte olímpico e paralímpico. Ele é o único suspeito de matar a modelo e bacharel em direito Reeva Steenkamp, 29 anos, sua namorada – o que, horas depois, foi negado veementemente em nota por sua família e seus assessores. O homicídio aconteceu na madrugada da quinta-feira 14, data em que o casal deveria celebrar o Dia dos Namorados. Eles estavam sozinhos na mansão de estilo mediterrâneo, localizada no Silver Lakes Golf Estate, um fortificado condomínio de alto padrão próximo à capital sul-africana Pretória, onde vive o velocista.

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Conhecido como “Blade Runner” por suas próteses de fibra de carbono, Pistorius foi o primeiro biamputado a participar de uma prova da Olimpíada – o feito aconteceu em julho de 2012, durante os Jogos de Londres, e lhe rendeu um lugar na semifinal dos 400 metros. Figura do panteão de super-atletas do esporte mundial, o sul-africano virou celebridade em seu país e seus relacionamentos, por vezes tumultuados e cheios de intrigas, passaram a ocupar as páginas dos tablóides. Apesar de estarem juntos há poucos meses (a primeira aparição pública foi em novembro de 2012), ele e Reeva, participante de um popular reality-show marcado para estrear no sábado 16, vinham construindo um relacionamento aparentemente feliz. Um dia antes de sua morte, a modelo chegou a perguntar aos seus seguidores no Twitter: “O que você tem na manga para o seu amor amanhã?”

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A animação que a jovem modelo mostrou no microblog pode estar por trás dos boatos que circularam na África do Sul pouco depois do assassinato. Segundo jornais locais, ela teria ido de madrugada à casa do atleta para lhe fazer uma surpresa e ele, acreditando se tratar de um ladrão, teria disparado. Apesar de ter sido logo desmentida por Denise Beukes, porta-voz da polícia, a versão reforça o conhecido apreço que Pistorius tem pelas armas e também o seu medo de ser roubado ou atacado. Em um extenso perfil publicado no ano passado pelo jornal americano “The New York Times”, o velocista diz que, na madrugada anterior à entrevista, por conta de uma falha no sistema de alarmes, havia levantado e descido as escadas com sua pistola de 9 milímetros (a mesma usada contra Reeva) para checar se a casa estava sendo invadida. Ele também praticava tiro e possuía um taco de beisebol e um de críquete bem atrás da porta de seu quarto. Pertencente a uma abastada família e detentor de uma marca pessoal que lhe rende mais de R$ 6 milhões por ano, Pistorius acreditava ter motivos de sobra para se proteger.

A polícia investiga o caso e ainda está coletando provas. Uma nova audiência foi marcada para a terça-feira 19. Até lá, o atleta ficará detido em uma delegacia e não em uma prisão. Segundo a coronel Katlego Mogale, Reeva levou quatro tiros na parte superior do corpo, um deles na cabeça. A porta-voz Denise Beukes, por sua vez, afirmou que há testemunhas e que os vizinhos relataram ouvir gritos pouco antes dos tiros. “A polícia já havia atendido a denúncias de natureza doméstica na residência do acusado”, completou, sem dar mais detalhes.

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GLÓRIA
Pistorius na Olimpíada de Londres

A morte de Reeva Steenkamp certamente contribuirá para a deterioração da imagem do atleta, um processo que vem se acentuando desde os Jogos Paralímpicos de Londres, quando Pistorius questionou a vitória nos 200 metros do brasileiro Alan Fonteles Cardoso Oliveira – pouco depois do episódio, ele se viu forçado a recuar e a reconhecer o êxito do rival. O temperamento difícil do sul-africano também ficou patente em novembro durante um escândalo envolvendo o milionário produtor de televisão Quinton van der Burgh. Segundo a imprensa local, o velocista teria ficado furioso com a traição de uma jovem com a qual vinha saindo e passou a assediar o magnata. Pistorius já começou a contabilizar prejuízos. No mesmo dia da morte da modelo, a Nike, uma de suas principais patrocinadoras, tirou do ar um anúncio em que comparava sua velocidade à de uma bala em um cano de revólver.


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