TOMIE OHTAKE – CORRESPONDÊNCIAS/ Instituto Tomie Ohtake, SP/ até 24/3
TOMIE OHTAKE/ Galeria Nara Roesler, SP/ de 21/2 a 23/3

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UNIVERSAL
Tela "Sem-Título", de 1962, mostra o gestual
das formas abstratas de Tomie Ohtake

Em seu clássico tratado sobre a cultura japonesa, “A Espada e o Crisântemo”, a antropóloga americana Ruth Benedict escreve sobre o paradoxo que o olhar ocidental enfrenta ao tentar compreender o Japão. Delicadeza e força, disciplina e suavidade, a espada e o crisântemo. Talvez esse estado dúbio, porém não necessariamente indefinido, seja ideal para descrever a obra de Tomie Ohtake, uma das maiores artistas nipo-brasileiras, que em 2013 completa 100 anos de trajetória.

Reconhecida por seu abstracionismo informal, Ohtake é dona de uma produção que constantemente se renova em um experimentalismo que, segundo os curadores Agnaldo Farias e Paulo Miyada, se estabelece em uma tríade na qual cor, gesto e textura se alternam harmoniosamente, como os binômios propostos por Ruth Benedict em relação à cultura nipônica. Farias e Miyada são os responsáveis pela mostra “Correspondências”, a primeira das quatro exposições comemorativas do centenário de Tomie Ohtake programadas para este ano.

Quando chegou ao País em 1934, aos 21 anos, a japonesa nascida em Kioto, hoje naturalizada brasileira, ainda não era pintora. Tornou-se artista, de certa maneira, tardiamente, aos 40 anos, durante os anos 1950. E é a partir de sua produção realizada naquela década que a mostra coloca sua obra em diálogo com a de outros 53 artistas brasileiros de diferentes gerações com trabalhos em vários suportes. “A curadoria não se deu como uma sequência cronológica ou por meio de questões como as da influência geracional, e sim pelo modo como os artistas resolvem ou executam suas criações, enfrentando questões semelhantes às que existem na obra de Ohtake”, explica Farias. 

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COSMOS
Obra "Huble 13", de Manuel Veiga, se apropria de imagem da Nasa

Dividida em três eixos, distribuídos em duas salas, as obras estão reunidas por afinidades em seus contextos de cor, gestualidade e matéria. Telas de Tomie, como as conhecidas “Pinturas Cegas”, que alternam planos escuros e claros, criando contrastes de luz e sombras, dialogam com a obra fotográfica de artistas como Claudia Andujar e Cristiano Mascaro, que também lidam com contrastes luminosos na imagem.

Apesar de ser uma mostra comemorativa, o tom retrospectivo foi deixado de lado. A produção inicial de Tomie, que teve um início figurativo, fica de fora para dar espaço à série de formas cósmicas e circulares que entram em contato, por exemplo, com o trabalho do artista Manuel Veiga, que em sua obra “Huble 13” transforma uma fotografia do universo, captada pelo telescópio da Nasa, em uma imagem de forte caráter pictórico. “Queremos apresentar à artista novos amigos, novos artistas que se veem em sua obra. É um gesto intuitivo que cruza, através do tempo, trabalhos, realizando, assim, um exercício de liberdade”, comenta Miyada.

Aos 99 anos (ela completa 100 em novembro), Ohtake segue com produção ativa e inédita que será mostrada em outra exposição, na Galeria Nara Roesler, em São Paulo. A individual, que também é assinada por Agnaldo Farias, apresenta 20 obras, entre esculturas recentes e uma nova série de pinturas produzidas entre 2012 e 2013.

Fotos: Divulgação/Instituto Tomie Ohtake