O silicone está baixando de nível nos Estados Unidos. Sai da região dos seios e desce para a zona posterior das americanas. Esta mudança de endereço segue novo modismo entre as mulheres que agora desejam um derrière mais protuberante e arredondado. O gosto feminino local sempre prestigiou a retidão do posterior, mas o país declarou guerra à bunda mole. Somente em 2002 – último ano com dados estatísticos da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos –, 614 moças e senhoras ganharam melhores contornos graças a implantes. “Este número, seguramente, se multiplicou por dez desde então”, garante Robert Centeno, pioneiro na aplicação do procedimento numa clínica da cidade de Saint Louis.

A princípio, pode-se pensar que os Estados Unidos finalmente se curvam ao Brasil, aderindo à preferência nacional verde-amarela. Mas o crédito deste novo impulso deve ser dado a cantoras como Jennifer Lopez e Beyoncé Knowles. A primeira é descendente de porto-riquenhos e a segunda é afro-americana. É verdade que as americanas não querem
as dimensões piramidais de J-Lo, mas algo bem mais modesto. A arquitetura exata dos implantes tem sido a busca de Centeno e de seu sócio, Leroy Young. Seus estudos envolveram observações de mais de 500 traseiros de mulheres e homens. Afinal, já se disse que bumbum
não tem sexo. Não se tem um consenso científico, mas para os americanos o ideal é que a projeção máxima – o cume dos morros
gêmeos – deve estar alinhada com o chamado “monte de Vênus”, no
lado frontal, segundo Young. “O total dos quadris, para as americanas, não ultrapassa os 80 centímetros”, diz. “As dobras na união das nádegas e pernas não devem passar dos dois terços da largura da coxa. E a curvatura junto às costas termina na base da espinha dorsal, com aquelas covinhas perfeitas”, receita o especialista.

Os homens também descobriram os implantes. Para ter gluteus maximus iguais ao do governador Arnold Schwarzenegger, os marmanjos estão procurando clínicas como a de Centeno. “Para os homens, a projeção é um pouquinho mais alta: no nível quase equivalente ao do umbigo.
E um diâmetro bem menor”, diz o cirurgião. Suas consultas masculinas aumentaram 60% nos últimos seis meses, e ele fez traseiras
turbinadas para 403 machões.

Toda esta procura provoca a escassez. Há falta de próteses glúteas no mercado. Um dos fornecedores para os americanos, claro, é uma empresa brasileira, a Silimed. “No Brasil, as técnicas de implantes glúteos estão bem mais avançadas do que aqui. Mas diariamente recebemos na clínica cerca de 100 telefonemas de colegas que desejam fazer estágio de observação para aprender as técnicas”, conta Centeno. O que leva a crer que a balança comercial brasileira poderia ganhar maior peso, caso fossem abertos cursos internacionais de implante de bunda. Os pacientes estão desembolsando algo entre US$ 6 mil e US$ 10 mil por um implante destes. Com o derrière virando pudim, o mergulho no mar de silicone pede nado de frente e de costas. “As estrelas de Hollywood, de uma certa idade, não querem perder a corrida das curvas para as jovens arrivistas”, diz Nathan Borg, consultor estético das celebridades de Los Angeles. “O jeito é investir na indústria de silicone”, completa.

Os implantes, porém, não ficam bem em todos. As complicações,
quando acontecem, podem ser traumáticas e de péssimo valor estético. Nesta área, diz-se, o prazer pode não compensar a dor. Em média, 6% dos pacientes americanos sofrem sérios revezes, segundo estudo da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos. Exemplos: o implante
não se ajusta sob medida e ocorre o chamado “efeito bolha dupla”.
Onde deveriam existir dois montes, forma-se uma cordilheira com
quatro. Ou o “efeito Picasso”, no qual a obra final adquire cortornos cubistas. Pegue-se ainda a temível contratura capsular (quando uma capa fibrosa é formada sobre a prótese) que transforma o assento da criatura numa autêntica bunda de estátua: dura e imóvel. E, finalmente, a possível transmutação das nádegas em travesseiros de pensão de rodoviária: tudo encaroçado.

Fora estes acidentes, a vida não se torna mais bela e confortável imediatamente ao pós-operatório. O paciente não pode se sentar durante uma semana, permanecendo de bruços, com o bumbum virado para a Lua. E nada de sexo: o marido – ou esposa – terá de esperar os sete dias para desfrutar da reforma. Mas, depois disso, é só ir para a rua e desfilar como um Cadillac 1959 (aquele do rabo de peixe).