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SUSPEITA PF vê indícios de fraude no Rodoanel de SP

Não é surpresa para ninguém que as empreiteiras no Brasil são tradicionais fontes de financiamento de campanhas eleitorais. Mas chamou a atenção na última semana o vazamento de informações do inquérito da Operação Castelo de Areia, revelando um esquema de caixa 2 da construtora Camargo Corrêa para pagamento mensal a parlamentares, partidos e gestores públicos. São citados políticos do PMDB, DEM, PSDB, PP e PTB. Segundo fontes da Polícia Federal, a contabilidade paralela teria movimentado até R$ 30 milhões. Os detalhes das propinas, com percentuais, valores em dólares, nomes e obras envolvidas, constam de uma planilha de 54 páginas apreendidas na casa de Pietro Bianchi, um dos diretores da empreiteira. A documentação pode jogar por terra muitas candidaturas em 2010.

No relatório final da operação, a PF cita 208 contratos da Camargo Corrêa firmados entre 1995 e 2000. Até agora foram encontrados indícios de irregularidades ao menos em 14 obras. É o caso, por exemplo, da construção do Rodoanel, em São Paulo, e das eclusas da hidrelétrica de Tucuruí, no Pará. A PF levantou a suspeita do envolvimento do diretor da Eletronorte, Adhemar Palocci, irmão do ex-ministro Antônio Palocci, no pagamento de R$ 2,1 milhões para a assinatura de um aditivo no contrato entre a empreiteira e a Eletronorte. PT e PMDB, segundo a PF, teriam recebido R$ 500 mil cada um.

A lista de políticos e autoridades é extensa. Segundo a PF, inclui os senadores Renato Casagrande (PSB-ES) e Inácio Arruda (PCdoB-CE), os deputados Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Edson Aparecido (PSDB-SP), e o secretário de Habitação da cidade de São Paulo, Elton Zacarias. Os documentos também citam o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), e o governador do DF, José Roberto Arruda, pivô do escândalo do Mensalão do DEM. Todos os políticos negam o recebimento de propinas ou a participação no esquema. “Acusações vis e infames foram assacadas contra meu nome. Responsabilizarei moral e materialmente os autores dessa acusação leviana”, disse Temer. Em nota, a Camargo Corrêa também negou envolvimento em irregularidades. “Ressaltamos que, neste mesmo processo, houve denúncias divulgadas precipitadamente à imprensa que se mostraram infundadas”, afirmou a empreiteira. Adhemar Palocci não quis comentar o caso.

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Para conseguir sair vitoriosa nas licitações, a empreiteira subornava os políticos responsáveis pelas emendas parlamentares sobre as obras e também as autoridades responsáveis. Segundo a PF, o dinheiro, então, era depositado em contas bancárias de empresas de fachada e depois remetido a paraísos fiscais. Um dos principais responsáveis por essas operações seria o suíço naturalizado brasileiro Kurt Pickel, que diz apenas prestar consultorias. Empreiteiras como a Camargo Corrêa pertencem ao rol de empresas que mais recebem verba dos governos devido à construção de hidrelétricas e rodovias. Nas eleições, aparecem, oficialmente, entre as maiores financiadoras dos partidos políticos. Em 2008, no período das eleições municipais, a Camargo Corrêa repassou legalmente R$ 7,4 milhões. Desconhece-se o montante doado por fora.