O Oscar de melhor animação não foi a única conquista do simpático peixinho Nemo, de Procurando Nemo. Seu sucesso ultrapassou as telas do cinema e a espécie (Amphiperion ocellaris, conhecida como peixe-palhaço) brilha em muitos aquários. E, assim como acontece no filme, ele não está sozinho. A amiga Dory (Paracanthurus hepatus, ou peixe-barbeiro) e outros companheiros podem nadar a seu lado. Vez ou
outra, dividem as mesmas águas com um amigável… tubarão! Em cativeiro, as três espécies, todas originárias do oceano Pacífico, convivem bem, sem que o maior coma o menor. Embora não sejam vegetarianos, como o esforçado Bruce do filme, os tubarões dificilmente devoram seus coleguinhas. Segundo especialistas, os famosos
predadores só atacam quando estão famintos, hipótese pouco
provável quando bem cuidados. Mas, para evitar eventualidades, é preciso que a dieta da fera esteja em dia. Frutos do mar – se possível frescos – não podem faltar em seu cardápio.

O requinte gastronômico é apenas uma das exigências do rei dos sete mares. Manter um tubarão exige gastos proporcionais ao seu tamanho, a começar por seu preço, que varia conforme a espécie. O tubarão-lixa, o mais barato, custa cerca de R$ 300. Já o galha-preta não sai por menos de R$ 7 mil. O alto valor é consequência da pouca oferta. “Como os diamantes, esses animais são caros porque são raros”, define Marco Antônio Augusti, proprietário da loja paulista Mondo Submerso. Também são poucos os aquários capazes de mantê-los. É fundamental que a área tenha três vezes sua largura e dez vezes seu comprimento para que o filhote literalmente não morra apertado. Dentre os poucos que dispõem de espaço suficiente para um mimo destes está a boate Porto Alcobaça, em São Paulo. Lá, um tubarão-lixa divide a mesma casa, de 50 mil litros, com outros seres marítimos. Apesar de morar em uma mansão no meio da balada, o peixão não a compartilha com as duas outras estrelas de Procurando Nemo. O peixe-palhaço e o peixe-barbeiro são mais caseiros. E, em sua maioria, estão em aquários domésticos, saciando o desejo de fãs, nem sempre mirins.

Mimo – Na casa da assessora de marketing Luciana Wasser, 32 anos, o pequeno peixe com listras brancas é a principal atração. “Minhas filhas trazem amigos ansiosos para ver um Nemo de verdade”, conta ela, mãe de uma menina de seis anos e outra de dois. Diferentemente do personagem do filme, o mimo de Luciana não foi capturado aleatoriamente em alto-mar. Ainda assim, o caminho até seu novo endereço foi uma aventura digna do protagonista da animação. Trazido de uma fazenda marinha da Califórnia, nos Estados Unidos, veio de avião dentro de um saco plástico fechado a vácuo e com uma solução de babosa (utilizada para evitar ressecamento). A viagem, obviamente mais segura do que a da personagem Dory no filme, é uma regalia de quem deseja adquirir um importado. No entanto, já existem criações nacionais. Um exemplar com sotaque americano ou australiano sai por R$ 700, enquanto um brasileiro custa cerca de R$ 200. O preço não afugenta os consumidores. Ao contrário, há cada vez mais gente procurando Nemo. Em uma única semana, quase 40 peixes das espécies de Bruce, Dory e Nemo foram trazidos pela empresa paulista Hobby Fish.

Apesar do enredo do filme, que mostra o abalo do peixinho após ser capturado e a garra de seu pai na ânsia de encontrá-lo, a qualidade de vida em cativeiro não é tão ruim assim. “Ao contrário do que se imagina, um peixe, até mesmo um tubarão, pode viver até 20% mais em um aquário quando devidamente tratado”, diz Leandro Troiano, proprietário da Hobby Fish. Se Nemo soubesse disso, talvez não ficasse tão triste. E, para zelar por sua saúde, Merlim, seu pai, poderia monitorar o novo endereço do filhão via internet. Parece ficção, mas é realidade. A possibilidade de supervisionar um aquário pela rede já está disponível (para os humanos, claro).

Essa comunicação se dá por sensores ligados nas paredes de vidro.
Estes repassam as informações de clima, luz, entre outros, para um processador que as transmite via rede a um computador compatível.
A novidade – da marca Intel – possibilita a manutenção a distância. Mas não resolve a limpeza, ainda manual, do aquário. Para aqueles que não suportam a tarefa, há prestadores de serviços – como a Hobby Fish,
por exemplo – que aliam o chato trabalho braçal à alta tecnologia em
um mesmo serviço. O custo do luxo é de R$ 500 mensais. Tamanho conforto (tanto para os peixes quanto para seus donos) certamente
evita planos de fuga.