33 (em cartaz em São Paulo) – O número emblemático que titula o filme do documentarista mineiro Kiko Goifman carrega mais símbolos que a associação religiosa com a idade do Cristo morto. Num estalo de curiosidade pessoal e artística, aos 33 anos o diretor – um filho adotivo – deu-se o prazo de 33 dias para achar sua mãe biológica, propondo-se a realizar um documentário em primeira pessoa montado apenas em intuições. Goifman inicia sua investigação procurando detetives de São Paulo e Belo Horizonte. Alguns lhe dão dicas para um começo, mas ele logo desiste de segui-las a risco diante da canastrice dos profissionais. Em luta frenética contra o tempo auto-imposto, parte numa busca noturna e diurna por pessoas e locais que pudessem acender uma luz para seu intento. “Eu estava muito contaminado emocionalmente”, segreda ele, que fez questão de não passar esta passionalidade para o documentário. Sua mãe adotiva, que a princípio se manteve arredia, aos poucos se tornou sua cúmplice remexendo no baú de lembranças à cata de alguma pista. A história tinha tudo para se transformar num lacrimejante caso de programa de auditório. Mas a objetividade, delicadeza e vocação cinematográfica de Kiko Goifman – que deu atuais tons de enredo noir ao seu filme em preto-e-branco, acentuados pela sintonia com a montagem de Diego Gozze – gerou um singular documentário de investigação. (Apoenan Rodrigues)