Veronica Guerin, uma cidadã irlandesa comum, mãe de família e repórter do Sunday independent – o jornal de maior tiragem de seu país –, resolveu em 1996 investigar fatos que levavam a Irlanda ao caos. À época, as disputas entre gangues de traficantes eram confundidas com ações do Exército Republicano Irlandês (IRA). Em meio à confusão, as drogas, principalmente a heroína, podiam ser facilmente compradas. Nas ruas de Dublin era comum tropeçar em seringas usadas e nos corpos de jovens desacordados ou mortos. Valendo-se de meios não ortodoxos, como a delação, Veronica tentou desmascarar a farsa da guerra ideológica fazendo pesadas reportagens. Foi morta a tiros no centro da capital, engaiolada num congestionamento de carros, pelos mesmos traficantes sobre os quais estava escrevendo. O custo da coragem (Veronica Guerin, Estados Unidos/Irlanda/Reino Unido, 2003), em cartaz no Rio de Janeiro e em São Paulo, traz a australiana Cate Blanchett liderando um elenco irlandês dirigido por Joel Schumacher, de Por um fio e Um dia de fúria.

Na realidade, o cineasta pouco acrescentou, além de refazer com uma linguagem mais ágil a mesma história descrita em

Alto risco

, dirigido em tom de telefilme pelo inglês John Mackenzie em 2000. O roteiro da primeira fita contou com a colaboração da própria Veronica, que exigiu que seu nome fosse preservado. Sua morte modificou tudo e, em termos práticos, provocou mudanças no sistema legal irlandês, levando para a prisão 150 pessoas envolvidas no tráfico, muitas até então insuspeitas. A versão de Schumacher está sendo lançada no Brasil pela distribuidora Buena Vista como um libelo à liberdade de imprensa. Casos como o do jornalista carioca Tim Lopes, assassinado no Rio de Janeiro em 2002, são citados na promoção. Segundo a Organização Repórteres Sem Fronteira, 42 jornalistas foram vitimados em 2003 enquanto exerciam suas funções.