A civilização grega não pára de nos surpreender. Um grupo de pesquisadores britânicos, americanos e gregos acaba de descobrir que o primeiro computador da história, datado do ano 87 antes de Cristo, era capaz de realizar tarefas sofisticadas como registrar informações sobre as fases da lua, os movimentos do sol e o dos planetas. O instrumento era chamado de mecanismo de Anticítera, por ter sido encontrado na costa da ilha grega de mesmo nome. Os cientistas, comandados por Tony Freeth e Mike G. Edmunds, da Universidade de Cardiff, no País de Gales, demonstraram que o artefato, movido por mais de 30 engrenagens de bronze, era capaz de ilustrar e calcular mecanicamente o movimento dos planetas. O estudo, apresentado na última edição da revista Nature e publicado em artigo do jornal americano New York Times, revela também que o mecanismo tinha tamanha precisão para o período que captava até as irregularidades da órbita lunar. Há inúmeras preciosidades nesta invenção que criaram polêmica em torno do conhecimento tecnológico da época.

A máquina de Anticítera é o único instrumento da Era Helenística que ultrapassa o conhecimento da ciência. E foi descoberto acidentalmente. Na Páscoa de 1900, um grupo de mergulhadores foi obrigado a ancorar na pequena ilha grega por conta de uma tempestade. A cerca de 40 metros da costa estava o navio naufragado que, junto com o mecanismo, trazia algumas estátuas. O achado foi abandonado até que, em maio de 1902, o arqueólogo Spyridon Stais se interessasse por ele. O que chamou a atenção de Stais foram os discos corroídos. Foi o arqueólogo grego quem descobriu que eles faziam parte de uma engrenagem bastante complexa.

Sua primeira impressão foi a de estar diante de um instrumento usado para navegação. Outros chegaram a acreditar que se tratava de um pequeno planetário
do tipo que Arquimedes teria elaborado. Na década de 70, uma análise realizada com raios gamas constatou que as inscrições no aparelho faziam parte de um parapegma, ou seja, um calendário astronômico, provavelmente criado pelo astrônomo grego Geminus, de Rodes. Através das letras inscritas na escala do zodíaco, os gregos eram capazes de constatar as principais elevações e poentes
da estrelas brilhantes e das constelações durante todo o ano. A máquina funcionava como um grande relógio astronômico semelhante aos que foram construídos na Europa durante o Renascimento. Modelos como este também foram construídos séculos mais tarde, como o computador calendário islâmico do século XIII, que
está no Museu de História da Ciência em Oxford, no Reino Unido. Durante vários trabalhos de reconstrução da máquina, notou-se que os mesmos dentes
de 60 graus usados pelos gregos foram adotados muitos anos depois pelos estudiosos árabes.

A máquina de Anticítera tantas vezes pesquisada não consta de nenhuma fonte sobrevivente. Mas é possível contemplá-la no Museu Nacional de Arqueologia de Atenas ou ver sua réplica no Museu Americano do Computador em Bozeman, no Estado de Montana (EUA). Cada vez que pesquisadores se debruçarem em seus mistérios, novas versões ainda poderão surgir. O mais interessante, porém, é saber que os gregos fizeram um instrumento tão sofisticado quando seu poder político começava a entrar em franco declínio.

87 a.C. foi o ano da criação do mecanismo de Anticítera,
o primeiro computador da história