07/02/2013 - 15:25
A polícia lançou nesta quinta-feira bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes no centro da Tunísia após o assassinato na véspera de um líder opositor e de protestos contra o poder islamita, que o primeiro-ministro tentou apaziguar anunciando a formação de um novo governo.
Quatro partidos políticos convocaram uma greve geral para sexta-feira, dia do funeral de Chokri Belaid, assassinado a tiros na quarta-feira na capital tunisiana. No entanto, a poderosa central sindical UGTT – cuja capacidade de mobilização é importante – ainda não se pronunciou a respeito.
Embora os partidos de oposição e os sindicatos não tenham convocado manifestações para esta quinta-feira, os observadores destacam que os protestos da véspera foram numerosos e espontâneos, estimulados pelas acusações de pessoas próximas de Belaid que alegavam que o poder islamita estava por trás do assassinato.
Estes distúrbios deixaram um morto entre os policiais, e várias sedes do partido islamita Ennahda – que dirige o governo após as eleições de outubro de 2011 – foram incendiadas ou saqueadas em várias regiões do país.
Na manhã desta quinta-feira, policiais mobilizados na avenida Habib Bourguiba, palco dos confrontos na véspera, lançaram bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes.
O local, símbolo da revolução de janeiro de 2011, que derrubou o regime de Zine El Abidine Ben Ali, já recebia desde cedo atenção especial das forças de segurança.
Ônibus, caminhonetes e furgões policiais foram mobilizados e a circulação foi proibida em torno do ministério do Interior.
Os confrontos entre policiais e manifestantes explodiram quando estes últimos se aproximavam do ministério do Interior, localizado na avenida.
Antes, a polícia havia pedido que não fossem lançadas pedras durante a manifestação.
Nuvens de gás se estenderam por toda a avenida, enquanto a polícia perseguia com cassetetes os manifestantes nas ruas próximas.
A imprensa tunisiana temia nesta quinta-feira que o assassinato de Chokri Belaid – homem de esquerda, crítico dos islamitas – afundasse o país em um círculo de violência, embora espere que a formação de um novo governo ajude a desativar as tensões.
Este assassinato, que tem claramente o caráter de assassinato político, não tem precedentes na história moderna da Tunísia, destacava a imprensa. Mas os meios de comunicação consideraram positiva, em geral, a decisão do primeiro-ministro islamita, Hamadi Jebali, de formar um novo governo de tecnocratas "até que sejam realizadas eleições, o quanto antes".
Jebali não forneceu, no entanto, nenhuma data para a formação do novo governo.
Além disso, nem seu partido, dividido entre uma ala moderada representada pelo primeiro-ministro e outra radical, nem seus aliados laicos, entre eles o Congresso para a República (CPR) do presidente Moncef Marzouki, reagiram até o momento ao anúncio de remodelar o executivo.
Vozes da oposição também se levantaram para exigir a dissolução da Assembleia Nacional Constituinte (ANC), que há 15 meses não consegue redigir uma Constituição devido à ausência de consenso de dois terços dos deputados.
"O governo já não é capaz de dirigir o país, nem a ANC. Devem renunciar no interesse do povo, da Tunísia e de sua estabilidade", declarou à rádio Beji Caid Essebsi, que dirigiu um governo pós-revolucionário em 2011 e que agora lidera o partido de oposição laico e centrista Nidaa Tounès.
Os sindicatos de advogados, de magistrados e da procuradoria, assim como os professores da principal universidade tunisiana, La Manouba, nos arredores da capital, anunciaram que estarão em greve a partir desta quinta-feira.
Há meses, este país do norte da África sofre violências políticas e sociais, em um contexto de esperanças frustradas após a revolução de 2011.
Nos últimos meses, partidos de oposição e sindicalistas acusaram milícias pró-islamitas de ataques contra opositores.
Algumas milícias próximas ao Ennahda foram acusadas de orquestrar ataques contra a oposição, entre eles o assassinato de um opositor mortalmente espancado por manifestantes.
"Sou ameaçado. O ministério do Interior me informou oficialmente há quatro meses que estava em uma lista de personalidades a assassinar. O presidente me concedeu guarda-costas há três ou quatro meses", disse Chebbi, cujo partido se opõe aos islamitas no poder.