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OBSTINADO
Oviedo tentava pela terceira vez chegar à Presidência do Paraguai

No Paraguai, exatamente 24 anos depois de invadir o palácio presidencial com uma granada nas mãos e se transformar em protagonista do golpe que derrubou o ditador Alfredo Stroessner, o polêmico general Lino César Oviedo afirmou: “Não enfrentamos as máfias e não conseguimos construir uma democracia sólida.” A declaração foi feita na noite do sábado 2, em um comício na cidade de Concepción. Aos 69 anos, Oviedo estava em campanha para a disputa presidencial de 21 de abril e animado com a possibilidade de chegar ao Palácio de López, depois de acumular três derrotas eleitorais. Fundador e principal líder da União dos Cidadãos Éticos (Unace), o general fazia uma campanha com forte apelo popular e se transformara nos últimos dois anos em alternativa real de poder, segundo analistas políticos do Paraguai. Terminado o comício, Oviedo e seu segurança, Denis Galeano, entraram pela última vez no helicóptero Robinson 44, que os levaria a Assunção. Por volta das 22 horas, as torres de controle aéreo perderam o contato com a aeronave. Nove horas depois, equipes de resgate localizaram os destroços do helicóptero em uma fazenda na região do Chaco. Os corpos de Oviedo, Galeano e do piloto Ramón Picco estavam espalhados em um raio de 100 metros e só foram reconhecidos oficialmente na segunda-feira 4.

O sonho de Oviedo governar o país terminou de forma trágica, mas as polêmicas que cercam o nome do general não terminaram. “Temos que considerar a possibilidade de um atentado”, afirmou o presidente Frederico Franco na terça-feira 5. “Não vamos descartar a hipótese de atentado”, completou a ministra da Defesa, María Liz García. Num país marcado por golpes e contragolpes, atos que atentam contra a vida de líderes políticos não surpreendem. E nos casos mais recentes Oviedo sempre esteve de alguma maneira envolvido. Em março de 1999, por exemplo, o vice-presidente Luis María Argaña foi assassinado no centro de Assunção depois de uma emboscada no trânsito. Semanas depois, diversos manifestantes acabaram mortos e Oviedo foi condenado como mandante do atentado contra Argaña e indiretamente responsabilizado pelas mortes dos manifestantes. Fugiu para a Argentina e depois para o Brasil, onde viveu exilado por quatro anos. Em 2003, uma série de reportagens de ISTOÉ comprovaram que o atentado fora uma farsa para comprometer o general Oviedo, na época o líder das pesquisas para a sucessão presidencial. Argaña foi conduzido já morto para a emboscada. Populista, o general também foi acusado de liderar golpe contra o ex-presidente Juan Carlos Wasmosy e acabou expulso das Forças Armadas. “Oviedo sempre insistiu em contrariar interesses poderosos”, afirmou o presidente Franco.

Até o fim da semana passada, as principais evidências eram de que fortes rajadas de vento provocaram a queda do helicóptero. Uma perícia feita com a ajuda de técnicos dos Estados Unidos poderá atestar se houve algum tipo de falha mecânica, o que não está descartado, pois testemunhas afirmam que o Robinson 44 voava muito baixo minutos antes da queda. Se encontrada alguma falha mecânica, outras investigações poderão concluir se elas ocorreram em razão de má manutenção ou se foram provocadas. No sábado 2, pouco antes de decolar, o piloto Ramón Picco telefonou para sua mulher, Rosilene Fernandez. Ele reclamou. Disse que não queria voar à noite, mas o general insistiu muito para que decolassem. Segundo Rosilene, não foi feita nenhum menção a eventuais problemas no helicóptero. 


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