O que manifestantes pregaram em faixas e cartazes contra a globalização nos últimos anos, a Organização das Nações Unidas (ONU) de certa forma colocou num estudo elaborado em dois anos de pesquisas, em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e conduzido por 26 pessoas de vários setores, além de acadêmicos como Joseph Stiglitz, Nobel de Economia, e a antropóloga Ruth Cardoso, mulher do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Uma das mais dolorosas constatações: o número de pessoas que vivem com US$ 1 ou menos cresceu praticamente no mundo inteiro, com destaque para a América Latina, África e Europa Oriental. Ou seja, a riqueza está sendo criada, mas muitos países e pessoas não vêem a cor de seus benefícios.

“Vista pelos olhos da vasta maioria de homens e mulheres, a globalização não atendeu suas simples e legítimas aspirações por empregos decentes e um futuro melhor para seus filhos”, constata o relatório da ONU.
“Muitos deles vivem no limbo da economia informal, sem direitos, precariamente, à margem da economia global.” Nas 186 páginas do estudo se reconhece que “os benefícios que podem ser obtidos com a globalização são imensos” e que “foram abertas portas a numerosos benefícios, como maior liberdade para o intercâmbio de bens, idéias e conhecimentos”. No entanto, se observam desequilíbrios persistentes e profundamente arraigados, inaceitáveis do ponto de vista ético e indefensáveis do ponto de vista político. Além da inquietação sobre os rumos que a globalização está tomando neste momento. “Suas vantagens estão fora do alcance de muitos, enquanto seus riscos são reais”, diz o estudo. “A corrupção aumentou, o terrorismo ameaça sociedades abertas, o futuro dos mercados é cada vez mais incerto, a governança global está em crise.”

A Comissão recomenda que o trabalho decente para todos se
converta em um objetivo global a ser perseguido mediante políticas complementares em nível nacional e internacional e argumenta que abordar a necessidade de aceleração da criação de empregos em todos os países contribuiria para diminuir tensões internas em cada um deles.
E prega maior coordenação das políticas macroeconômicas para elaborar uma estratégia mais equilibrada de crescimento mundial sustentável
e o pleno emprego, como a redução das barreiras que impedem o
acesso de produtos competitivos produzidos em países em desenvolvimento e a promoção de um nível mínimo de proteção ao trabalhador. Aos investidores estrangeiros propõe-se uma nova regulamentação para que sejam dirigidos ao setor produtivo.

Os co-presidentes da Comissão – Tarja Kaarina Halonen, a presidente da Finlândia desde março de 2000, país onde vivem 5,1 milhões de pessoas com uma renda per capita de US$ 25,8 mil, e Benjamin Mkapa, presidente da Tanzânia desde 1995, um dos países mais pobres do mundo, com 35,9 milhões de habitantes e renda per capita de US$ 600 – têm horizontes completamente díspares em seus países, mas concordam que uma globalização reestruturada para melhor é a chave que permitirá promover uma vida melhor e segura para todos no século XXI. “Consideramos que os benefícios podem chegar a um número maior de pessoas, assim como de países. Os recursos e meios necessários existem”, dizem eles. São propostas ambiciosas? “São, mas viáveis. Estamos seguros de que é possível chegar a um mundo melhor.”