O brasileiro sempre gostou de torcer, de polemizar, de acompanhar Copa do Mundo, eleição, festival da canção, concurso de miss. É da alma nacional o gosto pelo debate, pela discussão, seja na universidade ou na mesa de bar. Getúlio ou Lacerda? Pelé ou Garrincha? Chico ou Caetano? Grêmio ou Internacional? Marlene ou Emilinha? Collor ou Lula? Rio ou São Paulo? Com mais ou menos intensidade, sempre radicalizamos na hora de defender nossas posições. Nos últimos 100 anos, o Brasil teve revoluções, golpes militares, presidente bossa-nova, “rouba, mas faz”. Heróis e covardes, traidores e mártires. E gente do bem como Tom Jobim, Ayrton Senna, Fernanda Montenegro, Darcy Ribeiro, Pixinguinha. Não foram poucas as tragédias, tanto as barulhentas como as silenciosas. No primeiro grupo, incêndios como os do edifício Joelma, massacres como os da Candelária, do Carandiru ou de Eldorado do Carajás e mortes como as de Tancredo, Senna, Getúlio, Carmem Miranda. No segundo: analfabetismo, fome, corrupção.

Quando Hélio Campos Mello, diretor de redação, sugeriu uma lista com os 100 fatos mais importantes do Brasil no século, surgiu uma nova polêmica. Qual o critério? Como misturar Leila Diniz com Amazônia? Ou bossa nova com Oswaldo Cruz? Como toda lista, esta seria discutível. Chegamos à conclusão que se 100 milhões de relações dos 100 mais fossem feitas não haveria uma igual à outra. O desafio era grande e a animação maior ainda. Sob a coordenação do locutor que vos fala, um grupo de quatro dos melhores textos da revista foi convocado para o projeto: Angela Klinke, subeditora de Comportamento, e os repórteres Angélica Wiederhecker, Ines Garçoni e Thiago Lotufo. A primeira lista tinha quase 200 nomes, entre eles o bombom Sonho de Valsa, os livros Raízes do Brasil e Casa grande & senzala, a democracia corintiana, as sandálias havaianas, o Pasquim, o MDB e a Turma da Mônica. Descarta daqui, briga dali, discute de cá e a relação vai chegando perto dos 100. Agora o corte é na pele: João Cabral, Ari Barroso, Drummond, Marechal Rondon.

Finalmente, com a lista pronta, começa o mais difícil: classificar os 100, dar uma ordenação lógica entre fatos tão distintos. Mais discussão acirrada. O consenso é quase impossível, mas chegamos lá. As brigas agora eram para saber quem faria o perfil de tal ou qual personalidade. Foi outro bom momento. Debate saudável, em que todos tinham opiniões a dar, sugestões a fazer, contribuições e críticas. Sem esquecer, na hora de editar as fotos, do trabalho incansável de Juca Rodrigues e das equipes do arquivo e da fotografia. A nossa lista dos 100 chega em ordem decrescente para o leitor manter o suspense e se divertir com as escolhas. Também vale entrar na polêmica. Dizer se concorda ou discorda, lembrar dos injustiçados e criticar as unanimidades. Tudo em nome do debate e da democracia, como ISTOÉ vem fazendo desde seu primeiro número e como pretende continuar fazendo no próximo século.


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