Em 1991, a audiência brasileira era estimada em 98,7 milhões de telespectadores e os sinais de transmissão podiam ser captados em 99% do território nacional. Vinte anos após a inauguração da primeira emissora em 1950 por Assis Chateaubriand, apenas 24,11% das casas no País tinham um aparelho. Seu salto de crescimento é espantoso, e ele vai garantindo cada vez mais espaço no cotidiano nacional. A televisão expande seus tentáculos definitivamente, quando na década de 80 a Embratel libera às redes a transmissão de sinais abertos que podiam ser sintonizados por antenas parabólicas e passa assim a atingir áreas longínquas. O aparelho se tornou o objeto de consumo número 1 e também o mais novo membro da família. "Lazer é o espaço que separa o Volkswagen da televisão", escreveu o poeta José Paulo Paes, numa imagem que retrata um aspecto da magnitude do eletrodoméstico. Única fonte de informação e divertimento para grande parte da população, a televisão na segunda metade do século é o mais poderoso instrumento a ser manipulado, tanto que sempre coube ao Estado o direito de conceder e cancelar concessões. Sua força de interferência estimula as teorias e estudos no mundo todo. Afinal, ao mesmo tempo que diminuiu as distâncias geográficas e sociais num país de dimensões continentais, a televisão reforçou todos os contrastes e diferenças de classes. O rico e o pobre dividiam o interesse pela mesma novela, mas nunca estiveram devidamente retratados na tela, a não ser como caricaturas de si mesmos. Os telejornais exibem um país virtual, segmentado e distante da complexidade nacional. Trata-se de um universo sem fronteira para a ficção. A partir da década de 90, sem o massivo apoio do Estado e com a entrada da TV a cabo, as emissoras se vêem diante de uma concorrência muito mais acirrada. O telespectador passa a ser vigiado com aparelhos que medem constantemente seu desejo de mudar ou não de canal. O verbo zapear – trocar de canais – vira pesadelo para as redes que brigam pela audiência e por publicidade. Ser dono do controle remoto não garantiu ao consumidor, contudo, o direito a uma programação mais democrática. Só aumentou seu sonho de interação, a vontade de ser dragado para o universo paralelo e eletrônico. Como definiu a socióloga Esther Hamburguer: "O mundo do espetáculo é visto como uma porta para o mundo real, aquele que possibilita a integração plena (…) como se as discriminações seculares de classe e raça pudessem enfim ser redimidas."


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