O que falar então de uma saborosíssima feijoada, onde se misturam à carne de porco e os temperos que são acompanhados pelo arroz, a couve, a farofa e a laranja? Ela não é um fato nem uma personalidade do século. É simplesmente a tradição culinária que representa com maior autoridade o paladar do brasileiro ao longo desses 100 anos. Comer uma feijoada é um ritual e tem até os seus dias sagrados (quarta-feira e sábado). Todo estrangeiro que chega no Brasil, seja francês, americano ou argentino, tem de passar por esse batismo gastronômico. Mas quem se esbalda com a iguaria já deve saber de antemão a leseira que ela provoca. Ao contrário do que se imagina, a origem desse prato trabalhoso, saboreado em geral numa roda de amigos regada a caipirinha e cerveja, não remonta às senzalas. De acordo com especialistas do fogão, a versão mais difundida, de que os senhores das terras davam os restos dos porcos aos escravos, que cozinhavam os pedaços com feijão e água – fazendo assim nascer a receita –, não se sustenta. O mais provável é que ela tenha surgido a partir de influências européias, seguindo a tradição de cozidos de legumes misturados a carnes de todo tipo, sendo até considerada por alguns uma degeneração do cassoulet francês e da caldeirada lusitana. Seja como for, aventurar-se numa feijoada será sempre uma maravilha.


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