A região tinha dono, sim: Virgulino Ferreira da Silva (1897-1938), que atendia pelo apelido de Lampião. Vingador e justiceiro para uns, bandido e assassino para outros, ele era tudo isso ao mesmo tempo. Há muito a história já provou que o cangaço não tinha nada de romântico e ideológico e derrubou a crença num Lampião-Robin Hood, que roubava dos ricos para dar aos pobres. Miseráveis que viviam à margem do tripé fazendeiros-capatazes-lavradores, os cangaceiros eram almas sem esperança. Perambulando em bandos pelos confins do sertão, aquela marginália saqueava, estuprava, roubava e matava. Lampião entrou no cangaço ainda jovem para vingar a morte do pai e logo revelou talento para a bandidagem. Espalhou o medo por todos os Estados do Nordeste e deixou de cabelo em pé centenas de tropas policiais que passaram anos à sua caça. Numa emboscada, foi morto com outra dezena de companheiros, entre eles a mulher, Maria Bonita, em 1938. As cabeças ficaram expostas na escadaria da igrejinha de Santana do Ipanema (SE) para “servir de exemplo”. A ameaça funcionou. Três anos depois, era chegado o fim do cangaço no sertão e o início de uma lenda que rendeu dezenas de filmes, muitos livros, músicas e teses acadêmicas.