Paulo Nazareth e Anna Maria Maiolino/ Prêmio Masp Mercedes-Benz Artes Visuais 2012/ até 10/3

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CAMALEÃO
Paulo Nazareth se mimetizou com os povos por onde passou

Em março de 2011, Paulo Nazareth, natural de Governador Valadares, Minas Gerais, estabeleceu como meta de viagem o bairro do Brooklyn, em Nova York. Mas antes de chegar lá, em outubro do mesmo ano, ele pisaria em todos os terrenos da América Latina e carregaria nos pés a terra e a areia acumuladas em mais de 15 países. Nazareth viajou do Brasil aos EUA a pé, de ônibus e de carona. No caminho, produziu centenas de fotografias e vídeos, que foram publicados periodicamente no blog latinamericanotice.blogspot.com.br/. Seu trabalho é, porém, muito mais que os registros gerados no trajeto. “Notícias de América” foi uma das performances artísticas mais comentadas dos últimos tempos, não apenas pelas pessoas dos lugares onde passou – e com quem posou em autorretratos, sempre em situações no limite entre a fotografia turística e antropológica –, mas também pelos responsáveis de grandes instituições artísticas brasileiras e internacionais. Até 3 de fevereiro, o artista expôs no New Museum, em Nova York, ao lado de outros três nomes emergentes de países orientais. No Brasil, foi contemplado com R$ 70 mil como “Talento Emergente” pelo novo prêmio Masp Mercedes-Benz. Até 10 de março, ele expõe no museu da avenida Paulista um recorte da famosa série resultante da viagem performática.

Antes de começar a estudar arte, em 1998, aos 20 anos, e de se formar em belas artes pela UFMG, em 2005, Nazareth trabalhou como jardineiro, padeiro, balconista, limpador de banheiro e cuidador de porcos. Então, ao peregrinar pelas Américas com um cartaz pendurado ao pescoço, com frases como “Llevo recados a los EUA”, “Vendo mi imagen de hombre exótico” ou “I clean your bathroom for a fair price” (Limpo seu banheiro por preço justo), fotografar essas cenas e agora vendê-las por altos valores no mercado de arte internacional, Nazareth está reprocessando e revertendo a própria história e experiência de vida.

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ANDARILHO
Artista caminhou durante sete meses por 15 países da América

O folclore que se formou em torno da viagem conta que Nazareth levou apenas um saco de estopa contendo algumas mudas de roupa, uma imagem de São Judas Tadeu e um par de sandálias. Mas o fato é que ele carregou também sua câmera fotográfica e um pequeno tripé de bolso, já que ele é o fotografo da própria performance. E que fotógrafo! O resultado é uma coleção de fotos incrível, centenas delas, em que o artista aparece posando em ângulo frontal ou levemente oblíquo, em marcos simbólicos da viagem; ou dormindo em locais ermos, como pedreiras, praias desertas, arbustos.

Em exposição no Masp, as fotografias e os vídeos dividem a cena com impressos gráficos, que foram produzidos pelo artista e distribuídos no caminho. Com esse arsenal de imagens e textos, Nazareth se afirma como um artista que se equilibra e se movimenta muito bem entre a estética da precariedade e as novas mídias comunicacionais. “Escutei no Brasil, antes de sair de casa: ‘O brasileiro é um povo que se adapta facilmente em qualquer ambiente do mundo.’ Há dias em que me sinto um camaleão… há dias em que sou um índio da Argentina, outros um paquistanês no Peru ou um marroquino na Colômbia”, anotou ele no blog.