Era o dia 17 de abril de 1996. Por volta das 15h30, 69 policiais militares armados com revólveres, fuzis e metralhadoras, comandados pelo major Oliveira, chegam ao quilômetro 95, na curva do S. Cerca de uma hora depois, vinda do sentido oposto, aparece a tropa do coronel Pantoja: 85 homens. Encurralados, entre os dois grupos de soldados, estão centenas de homens, mulheres e crianças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). Às 19h30 a estrada está desobstruída. Missão cumprida: 19 sem-terra abatidos, 69 feridos. As necropsias, feitas nos dois dias seguintes no Instituto Médico Legal de Marabá, mostram que muitos foram executados com tiros pelas costas e à queima-roupa. À 0h15 do dia 19 de agosto de 1999, mais de três anos depois do massacre e quase três dias após o início de um dos maiores julgamentos do Brasil: Ronaldo Marques do Valle, presidente do 3º Tribunal do Júri do Pará, retorna ao auditório e anuncia a absolvição dos comandantes da polícia – major Oliveira, coronel Pantoja e capitão Lameira (subordinado ao coronel Pantoja). Motivo alegado: insuficiência de provas. Ao saber do resultado do julgamento o presidente Fernando Henrique se pronuncia: "O Brasil ainda não tomou consciência de que a impunidade ou a sensação de impunidade impedem a consolidação da democracia."