"Quando os orixás me escolheram, não recusei porque respeito muito a seita, mas balancei muito para confirmar. Isso é uma obrigação que a gente não pode nem tremer o corpo", disse Mãe Menininha do Gantois, em 1978, oito anos antes de sua morte. O poder místico é normalmente transmitido de uma mãe-de-santo para outra, mas Menininha recebeu o seu diretamente dos orixás Oxóssi, deus da caça, e Xangô, deus do fogo e do trovão. Aos 28 anos, assumiu o já respeitado terreiro do Gantois, em Salvador, e por sua liderança e sabedoria, conseguiu atrair uma elite que até então enxergava a religião afro como sinônimo de atraso. Quando substituiu sua tia Puquéria, em 1922, a polícia perseguia os terreiros e os praticantes do candomblé. Sua índole pacífica foi fundamental para contornar esses confrontos e possibilitar uma convivência com a Igreja Católica. "Deus é um só e todos podem se unir através dele", dizia. A mais famosa ialorixá do Brasil, filha de Oxum, reinou por 64 anos e se tornou confidente de gente importante como Antônio Carlos Magalhães, Dorival Caymmi, Caetano Veloso e Jorge Amado. A filha de Menininha, Creusa, escolhida para substituí-la, morreu em 1998, depois de 11 anos como mãe-de-santo. A nova herdeira do trono do Gantois ainda é um mistério.