A partir de domingo 22, às 21h, quando a São Clemente pisar na avenida Marquês de Sapucaí com seu “Boi voador sobre o Recife”, abrindo o desfile das escolas de samba do Grupo Especial, o maior espetáculo da Terra vai ser também um dos mais lucrativos. O espetáculo do crescimento, sonhado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para todo o País, desfilará por alguns dias pelo sambódromo do Rio de Janeiro e se espalhará por toda a cidade no Carnaval mais rentável da história. Segundo a Associação Comercial do Rio, o faturamento global no reinado de Momo deve bater a marca de R$ 800 milhões. O comércio da cidade espera um salto de 15% nas vendas em relação ao mesmo período do ano passado. Cada um dos 400 mil turistas esperados – um quinto dos dois milhões que chegarão ao Rio este ano – vai gastar, em média, o equivalente a US$ 100 (R$ 300) por dia. Inclusive 70 mil americanos, que têm de deixar suas fotos e impressões digitais nos portos e aeroportos.

“O Carnaval será o abre-alas para um bom ano para o comércio”,  prevê o embaixador Marcílio Marques Moreira, presidente da Associação Comercial, para quem a imagem da cidade e a auto-estima do carioca melhoraram. “O carioca já estava cansando de falarem mal da cidade dele. Recobramos o amor próprio e contagiamos o resto do mundo”, exalta Ana Maria Maia, presidente da Riotur, a empresa de turismo do município, que destaca dois indicadores do novo boom turístico: os hotéis lotados e os navios fazendo fila para chegar à Guanabara.
Em terra firme, os hotéis devem receber 25 mil turistas, a capacidade máxima hoteleira da cidade. “A imagem do Rio nunca esteve tão boa”, exagera Alfredo Lopes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio, que espera arrecadar US$ 15 milhões (R$ 45 milhões), ou US$ 500 (R$ 1,5 mil)/dia por hóspede. Hospedagem, compras e lazer vão gerar uma renda de US$ 141 milhões (R$ 423 milhões). Crescimento de 8% a 12% em relação ao ano passado. No mar, nada menos do que sete grandes navios dividirão as atenções de quem passa perto do porto, inclusive o transatlântico Queen Mary II, o maior do mundo, com seus números superlativos: 345 metros de comprimento, 2.620 turistas e 1.180 tripulantes. Apenas na semana do Carnaval, o porto do Rio vai receber 17 mil pessoas. Até o fim do verão, 37 navios terão passado pela baía de Guanabara.

Empresas – Melhor ainda quando turismo e negócios se misturam. Setenta por cento dos visitantes que chegam ao Rio ao longo do ano vêm para fechar negócios ou participar de feiras e convenções. Só 30% chegam exclusivamente para o lazer. Talvez por isso a Marquês de Sapucaí, meca do Carnaval carioca, pareça mais uma festiva Wall Street. Empresas como a Pfizer, Unimed-Rio, Embratel, Nextel, Grupo Libra e Heidelberg esgotaram os chamados Hospitality Centers, camarotes superproduzidos, com todas as mordomias, fechados por empresários e investidores. Nas frisas, que também contam com serviços dos camarotes, instalaram-se gigantes como C&A, Bradesco Seguros, Ponto Frio, EDS. “O Carnaval é um instrumento de sedução”, explica o empresário Maurício Mattos, que há 32 anos faz desta festa seu grande negócio. Dono do maior camarote, o da Rio Samba & Carnaval, com 700 m2, também é responsável pela venda de camarotes para grandes empresas nacionais e internacionais. Das 1,2 mil pessoas que frequentarão o supercamarote nos três dias de desfile, 900 são convidadas por empresas, como Air France, McDonald’s, Redecard, Nestlé e Private Bank Itaú. “O cara passa o ano trabalhando com seus compromissos, suas metas e o momento em que ele pode tirar a gravata e colocar sua fantasia é o Carnaval”, teoriza Mattos. Este ano, a RSC comprou da Liesa, a Liga Independente das Escolas de Samba, 60 camarotes e 132 frisas, um investimento de R$ 2,5 milhões. Os preços dos Hospitality Centers variam de R$ 220 mil a R$ 1,1 milhão por três dias de folia. Está prevista a vinda do vice-presidente mundial da General Motors, Mark Hogan, que deve cair no samba desfilando na Acadêmicos da Rocinha, além de executivos do HSBC, Pfizer, EDS, Club Med e American Express, entre outros.

“Esse marketing de relacionamento tem tornado mais eficiente a relação entre o consumidor e a marca. E o Carnaval é o maior evento

da Terra”, resume o publicitário Eduardo Fischer, da Fischer América, agência da Nova Schin, que este ano transferiu a guerra das cervejarias para a Sapucaí. Fischer, criador nos anos 90 do Camarote da Brahma, inovou com o Espaço Nova Schin. Dividido em dois andares e com estrutura similar à de um hotel cinco estrelas, o camarote, pensado pelo cenógrafo Gringo Cardia e alimentado pelo restaurateur Rogério Fasano, tem uma área de 500 metros quadrados com massagistas chineses para os pés, spas e estúdio fotográfico. “O estranho é uma cerveja que se diz nova copiar a estratégia do concorrente”, protesta Lígia Greche Gonçalves, gerente de marketing da Brahma, que chega à 14ª edição do seu camarote. É o maior evento da marca, que este ano também patrocina os desfiles da Estação Primeira da Mangueira e da Mocidade Independente de Padre Miguel. Uma briga que, com certeza, não termina na Quarta-feira de Cinzas.