Como escreveu Nelson Rodrigues em uma de suas crônicas da década de 50, "tudo nele se resolve pelo instinto, pelo jato puro e irresistível do instinto. E, por isso mesmo, chega sempre antes, sempre na frente, porque jamais o raciocínio do adversário terá a velocidade genial do seu instinto." A inspiração, mesmo dificultada por um joelho esquerdo virado para fora e o direito para dentro, permitiu a um mané "driblar até as barbas de Rasputin" na vitória contra a temida União Soviética na Copa do Mundo de 1958. O Anjo das Pernas Tortas seria ainda o melhor jogador da Copa de 62, quando entrou em campo com 39 graus de febre, enlouquecendo os três defensores tchecos encarregados de marcá-lo na final que daria o bi ao Brasil. Foi sua extraordinária habilidade que o levou a cometer a ousadia de deixar o craque Nilton Santos, um dos melhores defensores que o Brasil já teve, de pernas para o ar num de seus primeiros treinos no Botafogo. Driblando sempre para a direita, mas sem que alguém pudesse, em toda a sua carreira, marcá-lo, Garrincha foi o símbolo do jogador romântico que não se preocupava com a tática. Queria simplesmente driblar o "joão" à sua frente e fazer a alegria do povo.