Na semana passada, os jornais publicaram, quase ao mesmo tempo, duas notícias aparentemente auspiciosas para o Brasil. Primeira: pela primeira vez na história os investimentos brasileiros no Exterior superaram aqueles feitos no sentido contrário. Entre janeiro e outubro deste ano, empresas nacionais desembolsaram US$ 22,8 bilhões em projetos industriais lá fora. De lá para cá, vieram apenas US$ 13,6 bilhões. A segunda notícia: a CSN, siderúrgica capitaneada pela família Steinbruch, ofereceu US$ 8 bilhões para arrematar sua concorrente inglesa Corus. Pode parecer que finalmente “os estrangeiros estão se curvando à pujança do Brasil”, para usar um lugar-comum ufanista. Talvez não seja bem assim. Com essa dinheirama, as empresas brasileiras procuram recuperar o tempo perdido numa corrida mundial pela sobrevivência. Nos últimos 15 a 20 anos, o advento da globalização provocou uma concentração acelerada nos mais variados setores da economia, gerando conglomerados de proporções transatlânticas.

Nesse processo, as companhias locais têm ficado dramaticamente pequenas para o tamanho do jogo. Ou seja, é possível que os brasileiros tenham chegado atrasados para a festa. E agora correm, para ganhar músculos suficientes e, assim, enfrentar os colossos corporativos. A CSN vive um curioso dilema: ou se torna um jogador de peso com a compra da Corus ou vira alvo de algum dos grandalhões do setor. Há um dado que mostra o drama que se coloca diante da CSN. A Gerdau, apontada recentemente como a mais globalizada corporação de capital nacional, iniciou seu processo de internacionalização há 20 anos. Hoje, possui unidades na Europa e nos Estados Unidos. Mesmo com todo esse esforço, não aparece sequer entre as dez maiores siderúrgicas do planeta – encontra-se na 13º posição. Enfim, o recorde de investimentos brasileiros no Exterior deve ser comemorado, mas talvez seja tarde demais.