Os degraus que conduzem os fiéis à sua entrada e as calçadas que circundam o templo encravado no centro financeiro do Rio de Janeiro serviam de leito para 50 menores de rua. Oito deles foram mortos a tiros por policiais militares. O episódio brutal deixou indignada a opinião pública e denegriu ainda mais a imagem do País. "O massacre deve doer em nossa face como uma bofetada humilhante", disse o então presidente Itamar Franco. A cena de barbárie tornou a colocar em desagradável evidência chagas abertas da sociedade brasileira, como o problema do menor de rua, o crescente envolvimento de policiais em atividades criminosas e o aumento explosivo da violência urbana. Nas grandes cidades atingiu níveis assombrosos. As estatísticas policiais mostram que a taxa de homicídios triplicou na cidade do Rio nos anos 80, período em que a população cresceu apenas 1,13%. O aumento ocorre especialmente nos municípios da periferia pobre. "As novas imagens da cidade não são mais associadas à utopia liberal da liberdade e da segurança, perdendo as velhas virtudes cívicas. As cidades, hoje, têm suas imagens tomadas pela deterioração da qualidade de vida urbana”, observa a socióloga Alba Zaluar. Alguns anos antes, em agosto de 1987, a morte de Fernando da Silva Ramos, 19 anos, o Pixote, tornara-se cause celébre relacionada ao tema. Escolhido para protagonizar filme de mesmo nome juntamente com a atriz Marília Pêra, o menino pobre da periferia de São Paulo transpôs para a vida real as desventuras vividas no mundo do crime da ficção. Foi baleado em tiroteio com policiais militares oito anos depois de se ofuscar pelo brilho da fama. Seu corpo foi cravejado por oito tiros. A versão da polícia dava conta de que ele havia resistido a um cerco após ter participado de um assalto. Testemunhas disseram que Fernando estava desarmado. Dos seis acusados pela chacina da Candelária, três foram absolvidos e outros três condenados. Nada aconteceu com os homens acusados pelo assassinato de Fernando.