Eles já saíram às ruas para enfrentar a ditadura militar, pedir eleições diretas e, também, exigir o impeachment de um presidente da República. A primeira vez com pedras nas mãos, a segunda em clima de festa, que terminou em frustração, e a última com as caras pintadas, quando conseguiram depor Fernando Collor. Agora, os estudantes ensaiam, timidamente, uma volta à cena. Desta vez, o motivo é econômico. Na maior cidade do País, um aumento de 15% nas passagens de ônibus, aliado à previsão de 9% de acréscimo no bilhete do metrô, fez com que um grupo de adolescentes ocupasse por algumas horas, na terça-feira 28, a principal avenida de São Paulo e, no dia seguinte, batesse às portas do Tribunal de Justiça. A União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) lideraram os protestos.

O tamanho das duas manifestações não impressionou ninguém. Com no máximo 300 jovens na passeata da avenida Paulista, o que os estudantes conseguiram, de imediato, foi tumultuar o trânsito. Despertaram, porém, o receio das autoridades. Na ponta do lápis, 318 policiais, entre militares e municipais, foram escalados para monitorar o protesto. Eles revistaram bolsas escolares à procura de coquetéis molotov, mas só encontraram livros e cadernos. “Isso tudo foi apenas para nos intimidar”, disse o presidente da UNE, Gustavo Petta.

O bom humor, marca registrada dos protestos estudantis, voltou a aparecer. Caixões de papelão representaram os enterros do governador Cláudio Lembo e do prefeito Gilberto Kassab. Bolas vermelhas nos narizes explicitaram que os passageiros de ônibus e metrô estão sendo feitos de palhaços. E a ação popular impetrada no Tribunal de Justiça serve, ao menos, para manter as autoridades incomodadas.

O certo é que a reaparição da semana passada mostrou que os estudantes ainda têm reflexos. Não gostaram dos aumentos nas tarifas e reagiram à sua maneira. Se as lideranças dos universitários e dos secundaristas levarem a sério o potencial de mobilização contido nas reivindicações econômicas, protestos como o da semana passada podem aumentar de tamanho e, rapidamente, atingir outras cidades brasileiras. É consenso, por exemplo, que o valor das mensalidades das escolas secundárias e superiores é alto para os padrões da classe média. O problema é que, em lugar de discutir as questões afeitas à atividade estudantil, as lideranças da UNE e da Ubes se importam mais em manter-se atreladas ao governo, sempre à cata de verbas oficiais para congressos, viagens e, até, “protestos a favor”. Enquanto essas verbas ditarem a política da cúpula do movimento estudantil, de fato as autoridades não precisam se preocupar: as bases realmente não acreditam nos puxadores das passeatas.