Em 13 de dezembro de 1968, às 17 horas, o presidente Costa e Silva reuniu seus 23 ministros, no Palácio das Laranjeiras, para receber o aval das medidas radicais que pretendia tomar através do Ato Institucional nº 5: fechar o Congresso, suspender o direito de habeas-corpus aos acusados de crimes contra a segurança nacional, restabelecer ao presidente os poderes de intervir nos Estados e municípios, cassar mandatos e suspender direitos políticos. Estava instaurada a censura aos meios de comunicação e, nos porões, a tortura tornava-se uma instituição. Como se um blecaute repentino fizesse apagar a luz no fim do túnel, acabava a esperança de que os militares pudessem cumprir a promessa de que o regime autoritário seria provisório. A ditadura continuaria muitos anos após aquela noite, quando o locutor Alberto Cury, ao lado do ministro da Justiça Gama e Silva, anunciou em rede nacional o império do AI-5. Quando a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, organizada pelas associações das senhoras católicas, levou 500 mil pessoas para as ruas de São Paulo em março de 1964, os que já conspiravam contra a democracia tiveram a certeza de que um golpe receberia expressivo apoio popular para depor o presidente João Goulart. Jango acabara de assinar o primeiro ato das reformas de base. Foi a gota d’água. O descontentamento dos generais com o presidente atingira seu ponto máximo. A primeira mobilização golpista partiu do general Olímpio Mourão Filho, que em 31 de março saiu com suas tropas de Juiz de Fora (MG) em direção ao Rio, onde encontrou o batalhão do general Amauri Kruel, vindo do Vale do Paraíba (SP). Àquela altura, Goulart já estava convencido de que a melhor coisa a fazer era não resistir para evitar um confronto sanguinário. Na noite de 1º de abril, quando Jango estava em Porto Alegre, a cadeira presidencial foi declarada vaga. Até 1985, só sentariam nela comandantes do Exército. A ínfima experiência democrática brasileira havia durado 20 anos (1945-1964). Mesmo com a abertura política, "lenta e gradual", promovida por João Batista Figueiredo a partir de 1979, a vida brasileira está irremediavelmente marcada pelos anos de chumbo, pelo "ame-o ou deixe-o" dos generais.