Vem do Palácio do Planalto a ordem: “Chega de queimar o Ricardo.” Queimar na linguagem sindical e política – muito adotada em Brasília – significa desgastar ou destruir moralmente a imagem de alguém. Já Ricardo tem nome, sobrenome e 112.348 votos. Trata-se de Ricardo Berzoini, o sindicalista, que virou deputado, depois ministro e, sem querer, foi guindado à condição de presidente do Partido dos Trabalhadores. Hoje, Berzô, como é chamado entre os íntimos, está com seu destino político preso nas mãos de Diógenes Curado, o delegado da Polícia Federal que investiga a possível compra, por petistas aloprados, de um fajuto dossiê contra políticos do PSDB.

Suspeito de ser o chefe dos “aloprados”, Berzoini tem dito a amigos que o que ele quer mesmo é “limpar a sua imagem”. Enquanto as apurações não terminam, os dirigentes partidários que estão em Palácio trabalham com informações da própria PF, que de fato Berzoini não sabia sobre as tratativas de petistas com Vedoin, chefe da máfia das ambulâncias. Para atender à fala rouca que vêm do terceiro andar do Planalto, os 82 membros do diretório nacional do PT – que se reuniram num hotel de luxo, em São Paulo – nem sequer discutiram o afastamento de Berzoini da presidência do partido. Aos amigos, ele tem dito que não se preocupa em se manter na direção partidária, “Berzoini só não quer ser defenestrado”, conta um de seus companheiros, que pede para não ser identificado. A ISTOÉ, o deputado foi lacônico: “Não tenho apego ao cargo. Tenho compromisso com o partido, depois das apurações defino meu destino”, disse.

Berzoini nunca foi considerado um espetacular combatente do primeiro time dos “sindicalistas barbudos”. Até 1985, ele não passava de um simplório delegado sindical do Banco do Brasil. Na política, cresceu à sombra da liderança do ex-ministro Luiz Gushiken e de Gilmar Carneiro, dirigentes do Sindicato dos Bancários de São Paulo, e foi só em 1992 que esse mineiro de Juiz de Fora ganhou vôo próprio. Hoje, com 20 mil votos a menos que em 2002, Berzoini tem o reconhecimento do partido como um excelente soldado. Entre a militância suas credenciais oscilam entre um político reformista, oportunista e até pau-mandado. Essa última crítica é justificada pela sua capacidade de obediência ao Palácio. Em 2004, mesmo contra suas idéias, Berzoini assumiu a Previdência para implementar uma política de reformas que geraria desgastes até ao mais louco dos liberais. Sofreu. Na época, o PFL chegou a criar o “Troféu Berzoni de crueldade” – prêmio idealizado pelo senador José Jorge depois que o então ministro petista suspendeu o pagamento das aposentadorias dos idosos com mais de 90 anos para que fosse feito um recadastramento. Para ter os vencimentos de volta, eles foram obrigados a enfrentar filas nos postos do INSS. Berzoini sentiu na pele o desgaste de ser governo e, pior, aos amigos tem reclamado não ter tido um tratamento diferenciado quando estourou a crise do dossiê. Pura ingenuidade, depois que Palocci, Dirceu e Gushiken perderam o cargo, Lula não iria mantê-lo na coordenação da campanha colocando em risco sua reeleição. “Ele ficou deprimido, chegou até a pensar em rachar, caso não conseguisse se reeleger”, disse um parlamentar. O comportamento de Berzoini tem oscilado, dizem seus fiéis. Há momentos em que ele diz que vai voltar e ainda por cima, em outros, ele tem demonstrado estar saturado. Uma coisa é dada como certa em seu eventual ressurgimento das cinzas. Foi a pedido de Marta Suplicy que os dirigentes da Esplanada resolveram tirá-lo das brasas. Se ele volta para os braços dos 878.550 filiados do PT, só a polícia dirá.