A licitação da Aeronáutica para a compra de caças supersônicos põe a Embraer em posições antagônicas. Na proposta apresentada à Aeronáutica, o presidente da americana Lockheed Martin, Ronald T. Covais, admitiu uma associação com a empresa brasileira no contrato para o fornecimento dos caças F-16. A aeronave da empresa americana concorre com o Mirage 2000-5Br, do consórcio constituído pela Embraer e sua sócia francesa Dassault/Aviation. Covais afirmou que a Lockheed garante não só financiamento externo para o fornecimento das aeronaves como também compensações comerciais para a indústria aeronáutica brasileira. Mas não faz uma ligação entre a concorrência e as barreiras comerciais americanas às exportações brasileiras de aço, suco de laranja e soja, conforme reivindica o governo brasileiro. O executivo, que é coronel da reserva da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), garante que não há restrição para o fornecimento do míssil inteligente que a Aeronáutica pretende para equipar o novo caça.

ISTOÉ – O Chile comprou F-16, mas teve problemas para
equipar o avião com o míssil americano inteligente BVR
(Beyond Visual Range)?
Ronald T. Covais –
Estive negociando aviões para o Chile durante cinco anos e posso assegurar que os chilenos e nós estamos satisfeitos com a venda dos F-16.

ISTOÉ – A Dassault abre o software do Mirage 2000-5Br. Isso
não garante uma cooperação mais ampla com a Embraer para acesso à tecnologia?
Covais –
Ninguém vai fazer o avião no Brasil para atender a uma encomenda de doze aeronaves. Qualquer fabricante procura cobrir o custo e ter lucro. A produção de aviões no Brasil ocorreria se a Aeronáutica substituísse toda a sua frota.

ISTOÉ – Qual a melhor alternativa para as nações: sempre comprar aviões ou procurar ter acesso à tecnologia e tentar fabricá-los através de parcerias?
Covais –
Depende muito da situação de cada país. Até o Japão demorou muitos anos para fazer um avião e gastou muito dinheiro. Se o país tem muito dinheiro e quer criar uma indústria, pode escolher este caminho. Se não tem, deve decidir qual aeronave deve comprar.

ISTOÉ – A Lockheed admite uma parceria com uma
empresa brasileira?
Covais –
Tenho muito respeito pela Embraer, pela capacidade da empresa, e veria com muito interesse uma parceria da Lockheed com essa companhia. A British Aerospace é nossa concorrente na licitação no Brasil, em que ela participa com o avião sueco Gripen. Mas é nossa parceira no projeto do C-130-J. A parceria é a onda do futuro.

ISTOÉ – O sr. admite a revisão das barreiras impostas pelos EUA ao aço, suco de laranja e soja brasileiros nas negociações dos aviões?
Covais –
As barreiras comerciais são questões separadas, que certamente serão analisadas no âmbito da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), que poderá ser um instrumento para que os países façam acomodações de suas posições, em proveito de um comércio mais livre. O Brasil tem em Washington o embaixador Rubens Barbosa, que tem muita credibilidade na capital americana.